120 likes | 505 Vues
Cecília Meireles. No plano estilístico – ao contrário do coloquialismo dos poetas modernos – há em sua obra uma tendência à linguagem elevada, sempre carregada de musicalidade.
E N D
No plano estilístico – ao contrário do coloquialismo dos poetas modernos – há em sua obra uma tendência à linguagem elevada, sempre carregada de musicalidade.
A exemplo dos simbolistas, as palavras para a autora mais sugerem do que descrevem. Daí a força das impressões sensoriais em seus poemas: imagens visuais e auditivas sucedem-se a todo momento:O rumor de suas penas era um rumor de fontes brancas em tardes morenas.
CANÇÃO DE OUTONOPerdoa-me, folha seca, não posso cuidar de ti.Vim para amar neste mundo, e até do amor me perdi.De que serviu tecer florespelas areias do chão, se havia gente dormindo sobre o próprio coração? • E não pude levantá-la!Choro pelo que não fiz.E pela minha fraquezaé que sou triste e infeliz.Perdoa-me, folha seca!Meus olhos sem força estãovelando e rogando áquelesque não se levantarão...Tu és a folha de outono voante pelo jardim.Deixo-te a minha saudade- a melhor parte de mim.Certa de que tudo é vão.Que tudo é menos que o vento,menos que as folhas do chão... • Cecília Meireles
Ressalte-se que certas palavras que aparecem continuamente em seus versos, tais como música, areia, espuma, lua e vento, acabam, por sua repetição obsessiva, adquirindo uma dimensão metafórica. Simbolizam o efêmero, aquilo que passa (em geral, os sentimentos do eu-lírico). Opõem-se, por exemplo, à palavra mar, que é a grande metáfora daquilo que permanece (em geral, o sofrimento).
Sou entre flor e nuvem,estrela e mar. Por quehavemos de ser unicamentehumanos, limitados em chorar?Não encontro caminhos fáceisde andar. Meu rosto váriodesorienta as firmes pedrasque não sabem de água e de ar. • Cecília Meireles • Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.Não sou alegre nem sou triste:sou poeta.Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e diasno vento.Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se ficoou passo.Sei que canto. E a canção é tudo.Tem sangue eterno a asa ritmada.E um dia sei que estarei mudo:- mais nada
A TEMÁTICAIgualmente no plano dos assuntos, a poesia de Cecília Meireles revela ligações com várias estéticas tradicionais, especialmente o Simbolismo. Entre os seus motivos dominantes predomina uma difusa melancolia e uma noção de perda amorosa, abandono e solidão.- Uma aguda consciência da passagem do tempo, da brevidade enganosa de todas as coisas.
A atmosfera de dor existencial que emana dos poemas de Cecília Meireles é centrada na percepção de que tudo passa e de que o fluir do tempo dissolve as ilusões e os amores, o corpo e mesmo a memória. • Retrato"Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: Em que espelho ficou perdida a minha face?"
O crítico Flávio Loureiro Chaves anotou que a poesia de Cecília Meireles vive “engolfada na torrente do tempo”, em meio a uma grande angústia, imersa num “deserto opaco”, sem passado e sem futuro. “Não há passado / nem há futuro. / Tudo que abarco / se faz presente” – diz a poeta.
É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens • e sentir passar as estrelas • do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos. • É mais fácil, também, debruçar os olhos nos oceanos • e assistir, lá no fundo, ao nascimento mundo das formas, • que desejar que apareças, criando com teu simples gesto • o sinal de uma eterna esperança • Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar, • nem tu. • Desenrolei de dentro do tempo a minha canção: • não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.