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Formação básica na fé: Jesus Cristo: ontem, hoje e sempre II

Formação básica na fé: Jesus Cristo: ontem, hoje e sempre II. Escola de Dirigentes Centro Pastoral Paulo VI. «Meu Senhor e meu Deus!» Jo 20, 28. Formação básica na fé: Jesus Cristo: ontem, hoje e sempre II. Sumário: I – Jesus de Nazaré, vida e obra

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Formação básica na fé: Jesus Cristo: ontem, hoje e sempre II

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  1. Formação básica na fé:Jesus Cristo: ontem, hoje e sempre II Escola de Dirigentes Centro Pastoral Paulo VI «Meu Senhor e meu Deus!»Jo 20, 28

  2. Formação básica na fé:Jesus Cristo: ontem, hoje e sempre II Sumário: I – Jesus de Nazaré, vida e obra II – O Mistério Pascal: paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo III – Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem IV – Quem é Jesus? Bibliografia recomendada

  3. II – O Mistério Pascal: paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo «Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé. (…) Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem vem a ressurreição dos mortos». 1 Cor 15, 14.20.21

  4. 1. Considerações gerais

  5. 1 – Considerações gerais I. MISTÉRIO PASCAL: «Mistério» não tem o sentido de "coisa oculta", "enigma", mas sim o sentido de realidade que nos supera mas que é objecto de uma revelação progressiva. «Pascal», porque a entrega de Cristo na Cruz e sua Ressurreição estão ligados à Páscoa, à festa judaica que comemora a sua libertação da escravidão do Egipto, e a que Cristo dá o sentido novo de libertação da escravidão do pecado e da morte; do hebraico, «pesha», passagem: assim como a Páscoa, para os judeus, está ligada à passagem do Mar Vermelho, para os cristãos liga-se à passagem da Morte para a Vida, sentido último do Mistério Pascal. Assim como Cristo morreu mas voltou à vida, também nós somos libertados da morte e reconduzidos à vida. PÁSCOA: passagem II. MISTÉRIO PASCAL tem dois sentidos: Sentido estrito: abrange apenas a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo; Sentido mais amplo: abrange também a Ascensão e glorificação e o dom ou envio do Espírito Santo, ou seja, o Pentecostes. III. O mesmo acontecimento e mistério da vida de Jesus é constituído por dois momentos, inseparáveis e complementares da mesma e única realidade: a paixão, sofrimento e morte, que sintetizamos com a palavra «Cruz»; e a Vida Nova e gloriosa com todo o seu significado, a ressurreição; não se podem «ler» separadamente.

  6. 1 – Considerações gerais IV. O Mistério Pascal é o núcleo da nossa fé! É o maior, mais significativo, central e fundamental acontecimento da História dos Homens e do grande momento salvífico-revelador de Deus, no seio da história humana; é a Palavra e Resposta Última de Deus à questão do sentido do Universo e da História, ao escândalo do pecado, da morte, do Mal e a revelação ao Homem de Quem é Deus e de quem é o Homem, resposta á qual o Homem é chamado a corresponder com a adesão pela fé. V. Tem-se como pressuposto uma visão retrospectiva dos acontecimentos, isto é, de diante para trás, do futuro para o passado: é a partir do acontecimento pascal que a começa a interrogação acerca da missão e da Pessoa de Jesus: Quem é O Ressuscitado? É o Crucificado! Quem é o Crucificado? É Jesus de Nazaré que fez vários sinais, ensinou em parábolas, anunciou o Reino de Deus, fez-Se baptizar por João no início do ministério, viveu em Nazaré, era da família de David, nasceu de Maria, etc. É neste ambiente que nascem os quatro evangelhos. Só mais tarde é que se entende!

  7. 2. A Paixão e Morte de Jesus

  8. 2.1 – Os factos e o seu contexto Vamos recordar, de uma forma mais sistemática factos que já referimos… I. A PAIXÃO E MORTE DE JESUS NO CONTEXTO GLOBAL DA SUA VIDA. a) A morte de Jesus é consequência «natural», lógica, de todo o seu caminho e atitude, síntese da sua doutrina, valores e critérios que defendeu e viveu, que entrou em choque e confronto com as estruturas humanas de pecado. b) No entanto, se a paixão e morte é algo que acontece a Jesus, que se Lhe impõe dramaticamente, ao mesmo tempo é algo de profundamente Seu, de activo, de pessoal, de livremente aceite, acolhido e assumido; Jesus assume a realidade, faz da sua vida o dom, entregando-Se ao pai pela Sua Comunidade, pela Humanidade inteira. c) A própria paixão, livremente aceite por Jesus, a Sua atitude interior e exterior perante ela, é ainda anúncio de Boa Nova, do Reino de Deus: o que Jesus anunciara ao longo do Seu Ministério é agora vivido por Jesus até ao extremo, na Sua própria carne e existência. «Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos».(Jo 15, 13)

  9. 2.1 – Os factos e o seu contexto II. OS MOTIVOS DE CONDENAÇÃO E MORTE DE JESUS a) Interesses e situações ameaçados ou desiludidos: «O Mundo odeia-Me porque dou testemunho de que as suas obras são más» (Jo 7, 7). A covardia, o medo das consequências, o querer agradar aos homens, o temor das complicações, o egoísmo individual e colectivo, os interesses pessoais, etc., que estão por detrás da paixão. «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.» Mt 6, 24 b) Imagem escandalosa de Deus e do seu Reino: o um Deus que acolhe quem O procura, «O sábado foi feito para o Homem e não o Homem para o sábado» (Mc 2, 7), o amor universal e perdão aos inimigos, a imagem que as pessoas tinham do Messias, etc., tudo isto choca com a imagem vigente de Deus e do Seu reino. c) A reivindicação de autoridade messiânica e divina: As palavras e gestos de Jesus evidenciam que reclama para Si uma autoridade inaudita, só digna de Deus – Jesus fala com autoridade, até sobre a Lei, perdoa os pecados, realiza sinais, chama a Deus de Pai, etc. «Não te lapidamos por causa de uma boa obra, mas por blasfémia, porque sendo apenas homem, Tu te fazes Deus» (Jo 10, 33).

  10. 2.1 – Os factos e o seu contexto III. NÍVEIS DE RESPONSABILIDADE E CULPA a) Primeiro, há que dizer que só Deus sabe a culpa de cada um no processo! Cabe a Ele julgar! Os executores directos, com diferentes motivações foram: Saduceus, fariseus, Anciãos, Sumos sacerdotes, Anás, caifás, Pilatos, Herodes, o Povo, os próprios discípulos… b) Mas quem matou Jesus foi um espírito, uma mentalidade de pecado, o «mistério da iniquidade»; na Sua paixão está condensada as cinco grandes ,linhas do pecado: a riqueza, a vaidade, o orgulho, a mentira e a falta de amor. Não é este espírito que nos move muitas vezes nas nossas acções do dia-a-dia? Na paixão e morte de Jesus está condensada toda a história humana, do «mistério da iniquidade», adquirindo ela um sentido universal. Neste mistério entra também Satanás, o inimigo de Deus, «homicida desde o início e pai da mentira» (Jo 8, 44), figura de que pouco sabemos. No fundo, nenhum de nós está inocente da morte de Jesus!

  11. 2.2 – O significado salvífico da paixão e morte de Jesus I. REDENÇÃO, SALVAÇÃO E SOTERIOLOGIA. Redenção é diferente de Salvação: Redenção significa a acção libertadora realizada por Deus em Jesus Cristo, em favor da Humanidade; a redenção de Israel e da Humanidade está realizada e consumada; a Salvação, pelo contrário, estritamente falando, tem um significado mais subjectivo, pois é a apropriação por nós, o acolhimento ao longo da História, da redenção já realizada em Jesus Cristo. Contudo, são tomadas muitas vezes como sinónimos. A Soteriologia é a secção da teologia que trata da Salvação (do grego soterios, Σοτεριος). II. O CONTEXTO PRÉ-PASCAL DE INTERPRETAÇÃO. A interpretação salvífica e também a reveladora da morte de Jesus só se verificou a partir da Ressurreição, com um olhar retrospectivo. Mas A Comunidade Cristã Primitiva muito cedo começou a interpretar salvificamente a paixão e morte de Jesus. Para isso mais contribuiu as palavras e gestos de Jesus na Sua existência pré-pascal:a Sua vida foi um serviço, foi um «Homem-para-os-outros». De isso nos fala muitos relatos evangélicos: o Servo sofredor (Mc 9, 30-32), a instituição da Eucaristia (Mc 14, 22-25), o Lava-pés (Jo 13, 1-17), etc. E também no AT: salmos aplicados à paixão de Jesus (Sl 22, 34 e 69), a figura do Servo de Javé que sofre em resgate pela multidão (Is 53, 1-12). O próprio Jesus o diz: «Tomai, isto é o Meu Corpo… Isto é o meu Sangue, o Sangue da Aliança, derramado pela multidão» (Mc 14, 22-24): instituiu a Eucaristia, Dom de Si mesmo, irá morrer em acção de graças a Seu Pai. Jesus não sofreu só a morte, mas deu a Vida: «a Mim ninguém Me tira a vida, sou Eu que a dou» (Jo 19, 17-18). Essa existência na liberdade e amor está intimamente ligada à vontade do Pai, «que de tal modo amou o Mundo que lhe deu o seu Filho Único» (Jo 3, 16).

  12. 2.2 – O significado salvífico da paixão e morte de Jesus «Jesus morreu para nos salvar…» Mas salvar de quê? O que isso significa em concreto? III. A MORTE DE JESUS COMO LIBERTAÇÃO; REDENÇÃO OU SALVAÇÃO. Dada a situação universal de pecado, a finalidade última da Encarnação do Filho eterno de Deus é a redenção ou salvação do pecado e a recondução do Homem a Deus. Numa perspectiva negativa a redenção é como um resgate, alicerçado na tradição jurídica e civil de Israel, na qual alguém pagava por outro a sua libertação da escravidão, «comprando» a sua vida (cf. Rm 3, 24); Numa perspectiva positiva, a redenção é a restauração da união ou comunhão com Deus, destruída pelo pecado e como tal é chamada de justificação. Do pecado – a morte espiritual, oposição a Deus, raiz da escravidão humana; De Satanás – por nos libertar do pecado, liberta-nos também do seu inspirador último, Satanás; De que realidade nos salva e liberta Jesus? Do Inferno – é a morte espiritual eterna, separação definitiva de Deus; Da morte – abre-nos para a Vida Eterna; Da Lei – o Homem não se salva por apenas cumprir a Lei, mas pela graça, pela fé em Jesus Cristo; Jesus, Sacerdote, ofereceu-Se em sacrifício a Deus pela Humanidade, como Vítima de expiação, redimiu-a, resgatou-a, libertou-a, pagou com o Seu sangue (com a vida e entrega que significam) a Deus a «dívida»,a ofensa contraída pelo pecado do Mundo.

  13. 2.2 – O significado salvífico da paixão e morte de Jesus IV. A MORTE DE JESUS COMO RECONCILIAÇÃO. A vertente mais positiva do significado salvífico da morte de Jesus é a justificação. A paixão e morte de Jesus operou a reconciliação, a paz, com Deus e com os homens. A reconciliação, a paz, é filha da Sua entrega: «Deixo-vos a paz dou-vos a Minha paz» (Jo 14, 27). V. A REALIZAÇÃO DA REDENÇÃO. a) O valor da vida e da paixão de Jesus não provem do sofrimento em si, mas sim pela dignidade da pessoa e pela intenção com que é vivida. Para compreendermos temos e ver o que está «por detrás» da dor e sofrimento de Jesus: a sua dignidade é infinita e a sua intenção é o máximo de liberdade e amor; por isso, todas as acções de Jesus são salvíficas. b) A acção salvadora de Deus abarca toda a Sua vida, mas atinge na paixão e morte, na Sua Cruz, o cume. c) Jesus realizou a redenção por três modos: pelo poder doutrinal ou profético, da sua Palavra, que dissipa a mentira e o erro; pelo poder pastoral ou real, como Bom Pastor, que mostra e reconduz o Homem ao caminho do Pai e como Rei, que serve em vez de dominar; pelo poder sacerdotal, Jesus, Sumo Sacerdote e Mediador, é também Vítima, fazendo da sua vida o sacrifício. Jesus pelos seus méritos, merece por parte de Deus uma recompensa. d) Jesus é o novo Cordeiro Pascal, «o Cordeiro de Deus que tira o pecado do Mundo» (Jo 1, 29). Reúne em si o Servo sofredor de Isaías (IS 53) e o rito do Cordeiro Pascal, símbolo da redenção de Israel (Ex 12, 1).

  14. 2.3 – O significado revelador da paixão e morte de Jesus I. O PECADO, O PERDÃO A paixão de Jesus termina no fracasso e na morte; é o escândalo de Deus que deixa vencer a injustiça, em aparente abandono; mas ao ressuscitá-Lo, tudo muda de sentido: Deus, afinal, não é indiferente, mas ama e por isso se «magoa» com o pecado do Homem, porque aquele escraviza o Homem; a gravidade do pecado do Homem, só na Cruz de Jesus é revelada. Deus, afinal não abandona o Homem, humilhado, sofredor, «Ecce Homo», o Homem verdadeiro, que é Jesus. «Quem Me vê, vê o Pai» (Jo 14, 9) II. … QUE DEUS É AMOR PARA CONNOSCO Deus não olha de longe, mas torna-Se um de nós, identifica-Se com o Homem na sua humilhação, sofrimento, debilidade, derrota e até na morte. Deus é misericórdia, é Amor para connosco. A PAIXÃO E A CRUZ DE JESUS REVELA… III. … QUE DEUS É AMOR EM SI MESMO O Amor, em Deus, não é um atributo de Deus, mas é a Sua natureza. Na Cruz de Jesus, à luz da ressurreição, revela-se que Deus é em Si mesmo Amor, comunhão eterna e pessoal de Amor trinitário (Pai, Filho e Espírito Santo). IV. … QUEM É O HOMEM O Homem é aquele que é amado por Deus até à loucura e à morte: «Deus de tal modo amou o Mundo que lhe deu o Seu Filho Unigénito» (Jo 3, 16); só por Jesus Cristo sabemos quem é o Homem: pela graça do Espírito Santo, o Homem é filho de Deus, no Filho de Deus!

  15. 3. A Ressurreição de Jesus

  16. 3.1 – A problemática da ressurreição de Jesus I. IMPORTÂNCIA E SENTIDO GLOBAL DA RESSURREIÇÃO Jesus de Nazaré morreu como um fracassado, abandonado por tudo e por todos! Mas neste contexto, inesperadamente irrompe a Boa-Nova: Jesus está vivo! «O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão e depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos reunidos, de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive… Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos e em último lugar apareceu também a mim, o abortivo», resume Paulo (1 Cor 15, 5-8). Jesus ressuscitou e está vivo! Não é possível fé cristã, sem fé na ressurreição de Jesus Cristo. O mistério pascal de Jesus Cristo, a Sua morte e ressurreição, é o «mistério central» de Jesus Cristo, do Cristianismo, da História e da História da Salvação. «Sem o facto da ressurreição, a vida cristã seria simplesmente absurda», «Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé» (1 Cor 15, 14). CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 5 de Novembro de 2008 NÃO É POSSÍVEL SER CRISTÃO SEM ACEITAR QUE CRISTO RESSUSCITOU!

  17. 3.1 – A problemática da ressurreição de Jesus II. A HISTORICIDADE DA RESSURREIÇÃO DE JESUS Mas afinal a ressurreição de Jesus é um facto histórico ou não? 1) NÃO: por um lado, não é histórica porque não é julgável na sua realidade positiva, medida em termos de provas históricas, críticas e científicas; a ciência tem uns limites, é incapaz de se situar para além do nosso espaço e tempo… a ressurreição não é histórica no sentido estrito, científico, pois situa-se para lá da história, é «trans-histórica», pois Cristo saiu da história com o Seu corpo para entrar no mundo de Deus. Dizer que a Ressurreição não é histórica não é dizer que ela não seja um acontecimento real para quem admite que o mundo não está definitivamente fechado sobre si mesmo, mas radicalmente aberto à liberdade de Deus; é um acontecimento real vivido pela pessoa de Jesus, um homem da nossa história. NÃO… E SIM! 2) SIM: trata-se de uma realidade escatológica, início dos Novos Tempos, radicalmente diferente dos nossos critérios estritos históricos; existem provas históricas seguras de que os homens testemunharam esta Ressurreição, visto que acreditaram nela; a Ressurreição é histórica, pois aconteceu num determinado lugar, data e pelos traços que deixou na história; é um acontecimento experimentado na História, mas não «medido» pelos critérios históricos. III. A RESSURREIÇÃO ACESSÍVEL À FÉ Só conseguimos falar, em sentido próprio, das realidades que experimentamos, todas elas realidades intra-mundanas, situadas no espaço e no tempo, físicas, materiais, empíricas. Por isso, todas as descrições, do Ressuscitado, das realidades meta-históricas, como Deus, Céu, Inferno, etc., são feitas na base de símbolos e metáforas: são realidades que, nós como sujeitos limitados, não podemos delimitar.A Ressurreição não é acessível senão á fé; Jesus não se faz reconhecer nas Suas aparições a não ser por aqueles que se abrem á fé nele; o anúncio da Ressurreição é, em si mesmo, um acto de fé.

  18. 3.1 – A problemática da ressurreição de Jesus IV. OBJECÇÕES À RESSURREIÇÃO DE JESUS Têm sido apresentadas objecções ao longo da História contra a historicidade da Ressurreição, de ordem: psicológica (dizem que as aparições de Jesus ressuscitado são fruto de alucinações, ou até de má-fé; mas, o fruto das mesmas nos discípulos, de entrega até à morte total não parece ter base em interesses ocultos), de Ciência (natural ou histórica: pode dizer-se que é um acontecimento escatológico, não pode ser medido pela Ciência), etc. Vamos ver algumas concretamente. 1. «O corpo foi roubado do sepulcro»: Reimarus (séc. XVIII) afirma esta tese, seguindo a dos judeus da época de Jesus; contudo, os apóstolos não tinham ânimo para admitir a ressurreição de Jesus e muito menos para tentar impô-la através da fraude; além disso, qualquer tentativa de falsidade por parte dos Apóstolos teria sido descoberta pelos judeus hostis, que teriam desprestigiado toda a sua pregação, o que não aconteceu. 2. «Jesus não chegou a morrer, sendo sepultado vivo e depois reanimado». Bahrdt e Paulus (séc. XVIII) defendiam isto; o sedativo que Ele tomou quando crucificado e os aromas que as mulheres levaram para ungi-lo terão contribuído para reanimá-lo. Holger Kersten, nos nossos dias, acrescentou o seguinte: Jesus, deixando o sepulcro, foi à Índia, onde terminou os seus dias! Isto não leva em conta a arqueologia que nos diz onde está o sepulcro de Jesus, em Jerusalém, com a sua história através dos séculos; não leva em conta toda a dura paixão de Jesus (flagelação, coroação de espinhos, porte da Cruz, crucificação, golpe com a lança, «pois os soldados o encontraram já morto» (Jo 19, 33). 3. «O que ressuscitou não foi Jesus, mas a Sua mensagem». Certos seguidores da Escola da História das Formas, especialmente Willi Marxsen, discípulo de Rudolf Bultmann, isso afirmou; o milagre seria não a ressurreição de Jesus, mas a fé dos discípulos! O que se pressupõe é que tudo aquilo que a razão não explica, não é verdade; ora, se Deus não pode fazer dum círculo um quadrado, pode ressuscitar um morto! 4. «O episódio da ressurreição de Jesus foi inspirado nos mitos orientais que existiam de ressurreição de deuses». Primeiro, para os pagãos, o voltar à vida por parte de um deus (Astarté, Osíris, etc) era um fardo, a alma aprisionada no cárcere corpóreo e não tinha a dimensão que tem a ressurreição em Jesus, de passagem para Vida Nova; segundo, o ambiente religioso da Palestina não era favorável a esse sincretismo religioso, mas avessos às influências pagãs.

  19. 3.2 – A Mensagem daRessurreição de Jesus I – A GÉNESE DA FÉ DOS DISCÍPULOS: DA INCREDULIDADE AO ANÚNCIO Após a Sexta-feira Santa os discípulos encontram-se com medo, fechados em si, dispersos… Mas, como é que se deu a reviravolta até ao seu anúncio firme que Jesus estava vivo, inclusive até á dávida da própria vida? A ressurreição de Jesus foi-lhes atestada por três sinais: 1º A descoberta do túmulo aberto e vazio; 2º Uma mensagem angélica no túmulo, segundo o género literário da teofania; 3º As aparições do Ressuscitado. 1º A descoberta do túmulo aberto e vazio; Antes de mais trata-se de um facto, que não podia ter sido inventado pela Igreja Nascente, pois nunca teriam apelado para dizeres de mulheres, considerados pouco fidedignos.Esta descoberta, tomada em si mesma, fora do contexto, não conduz à fé; não é prova de Ressurreição; o corpo poderia ter sido levado… Maria de Magdala tem essa reacção espontânea, os soldados («De noite, enquanto dormíamos, os seus discípulos vieram e roubaram-no» (Mt 28, 13); Pedro não chega à fé por isso; mas de João diz-se: «Viu e começou a crer» (Jo 20, 8); isto graças ao horizonte da história santa e o itinerário de Jesus que lhe permite concluir na fé: «ressuscitou».

  20. 3.2 – A Mensagem daRessurreição de Jesus 2º Uma mensagem angélica no túmulo, segundo o género literário da teofania; O túmulo vazio é também o lugar de uma manifestação ou «teofania» divina da ressurreição de Jesus; os primeiros destinatários da mensagem são as mulheres; o interesse para a génese da fé é dupla: primeiro todos os evangelistas colocam em relevo o papel das mulheres, o que é surpreendente e mesmo chocante nos textos de tradição judaica; por ela se reconhece geralmente (como vimos) um critério de historicidade. Sublinham também a dificuldade dos discípulos diante do acto de fé; no caso de se apoiarem apenas neles mesmos, poderíamos pensar que os discípulos não teriam acreditado com esta simples base. 3º As aparições do Ressuscitado aos discípulos. Primeiro, há que salientar a dificuldade e a relutância que os discípulos têm em acreditar nas aparições de Jesus; não é desejo, nem esperança dos apóstolos, o que leva a rejeitar a hipótese de alucinação. Por exemplo, em Jo 20, 24-29, Tomé não acredita logo. Para lá da diversidade de situações, as aparições de Jesus ressuscitado, no NT, têm sempre três traços comuns: 1) Jesus manifesta a Sua condição nova, diferente, escatológica: Ele é o mesmo, mas está diferente; por vezes têm dificuldade em reconhecê-lo (o que aponta para as diferenças entre o corpo glorioso de Jesus e os homens neste mundo; além dos sentidos, é necessário a fé e uma preparação interior para O reconhecer); 2) É o próprio Jesus que Se dá a reconhecer à Sua Comunidade: esta não O reconhece por si mesma, mas Ele faz-Se reconhecer por um sinal (partir do pão, a pesca milagrosa, etc.); 3) Jesus dá o mandato àqueles a quem aparece de anunciar aos outros que Ele está vivo, núcleo essencial do Evangelho.

  21. 3.2 – A Mensagem daRessurreição de Jesus A proclamação (kerigma) As aparições de Jesus ainda não libertam os discípulos do medo; mas não: só após o Pentecostes, que nos fala Act 2, 14, reunidos no cenáculo em oração com Maria, mãe de Jesus, recebido o Espírito Santo, começam a anunciar que aquele Jesus que padeceu, morreu, ressuscitou e agora está vivo! É o chamado kerigma, proclamação ou primeiro anúncio: os discípulos gritam a sua fé! II – O TESTEMUNHO DE S. PAULO S. Paulo sente-se testemunha do Ressuscitado; não conheceu Jesus antes da Páscoa, mas considera o acontecimento prodigioso que se deu a caminho de Damasco, como uma aparição do Ressuscitado; é o um marco importante na sua conversão (ou melhor: iluminação). S. Paulo diz-nos: «Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos anunciei, que vós recebestes, no qual permaneceis firmes e pelo qual sereis salvos, se o guardardes tal como eu vo-lo anunciei; de outro modo, teríeis acreditado em vão. 3*Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já morreram. Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto». (1 Cor 15, 1-8).

  22. 3.2 – A Mensagem daRessurreição de Jesus a) Paulo transmite os dois pontos essenciais da fé: morte e sepultura de um lado, ressurreição do outro. b) Paulo aponta-se ele próprio como o último beneficiário das aparições de Cristo Ressuscitado. c) Fala geralmente em «ele deu-se a ver»: sublinha a iniciativa de Jesus em todas as aparições. d) Na 1 Cor, entra em debate com os coríntios que dizem não haver ressurreição dos mortos: 1º - tira as consequências segundo a qual Cristo não teria ressuscitado: a mensagem cristã tornar-se-ia vazia de conteúdo; os que morrem em Cristo estariam perdidos; mas reafirma a ressurreição como pedra angular da mensagem cristã: «Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram» (1 Cor 15, 20). 2º - como ressuscitam os mortos? Paulo não sabe o processo, mas salienta que o corpo é o mesmo antes e depois da ressurreição, mas a sua condição é radicalmente nova porque ultrapassa os limites do corruptível; fala na imagem do grão de trigo e a espiga. Assim também acontece com a ressurreição dos mortos: semeado corruptível, o corpo é ressuscitado incorruptível; semeado na desonra, é ressuscitado na glória; semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força; semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual. Se há um corpo terreno, também há um corpo espiritual. 1 Cor 15, 42-44 Por curiosidade, os dotes do Corpo Glorioso são: Impassibilidade; Subtilidade; Agilidade; Claridade.

  23. 3.2 – A Mensagem daRessurreição de Jesus III – O SENTIDO DA MENSAGEM 1. A confirmação da identidade filial de Jesus A Ressurreição é a autenticação divina do itinerário humano de Jesus. Jesus é o Filho de Deus: a reivindicação inaudita de Jesus é agora confirmada, selada por Deus. 2. A Ressurreição é a Vida A ressurreição de Jesus é a vitória da vida sobre a morte. Mas o seu destino será o nosso: a sua ressurreição é garantia das promessas que nos são feitas. 3. O significado do sepulcro vazio O sepulcro vazio não é em si uma prova da Ressurreição; mas tem uma importância capital: porque ele é o único vestígio da Ressurreição, negativo aliás, que pode ser observado na realidade física do nosso mundo. Tem um tríplice significado: 1º - a pedra rolada significa a vitória de Deus sobre as forças da morte e a abertura da morada dos mortos (o que os judeus designam sheol); orienta para a esperança em Cristo; 2º - As roupas deixadas no sepulcro representam as velhas roupas usadas e a libertação de Jesus dos laços da morte pelo Deus da Páscoa; 3º - É sinal anunciador da transformação do mundo, dos sinais dos tempos; a última palavra sobre a condição humana não é a realidade corruptível deste mundo; na pessoa de Cristo, o cosmos já conheceu uma fractura.

  24. 3.3 – O significado revelador da ressurreição de Jesus I. A RESSURREIÇÃO DE JESUS COMO CONFIRMAÇÃO • Sem a ressurreição de Jesus, o Jesus pré-pascal é incompreensível, insignificante e passado. Ao ressuscitar Jesus, de entre os mortos: • Deus confirma a pretensão pré-pascal de Jesus (ser Ele o Messias; mais: ser Ele o Filho de Deus, com autoridade absoluta e divina) e o seu agir; • Deus confirma que a morte de Jesus é salvadora, sacrificial e substitutiva: Deus ouviu a oração de Jesus, mas também que a Sua oblação, entrega sacrificial foi aceite e que a Redenção da Humanidade está consumada; • Deus revela-Se definitivamente e insuperavelmente em Jesus Cristo: há que mudar a imagem do Deus da Filosofia, para um Deus Amor, um só Deus, mas que n’Ele há três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo; o Deus revelado em Jesus ressuscitado, é um Deus diferente! II. A RESSURREIÇÃO DE JESUS COMO ANTECIPAÇÃO Israel vive na esperança da Ressurreição Universal e do Juízo Final; se Jesus ressuscitou, então o Pai confirma a Sua pretensão divina; Deus está definitivamente revelado, o Fim dos Tempos já começaram e o resto devem acontecer em breve; o Pai confirma Jesus porque ao ressuscita-l’O antecipa n’Ele o Fim dos Tempos. Jesus é o Filho do Homem esperado (cfr. Dn 7), figura a quem cabe decidir os destinos da humanidade.

  25. 3.4 – O significado salvífico da ressurreição de Jesus I. A RESSURREIÇÃO DE JESUS COMO FUNDAMENTO DA PLENA UNIDADE DA HUMANIDADE DE JESUS COM DEUS «Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 52). Tendo crescido nesta unidade da humanidade de Jesus com Deus ao longo de toda a Sua vida terrena, a sua ressurreição é o momento-cume deste crescimento, a máxima e total unidade da humanidade de Jesus com Deus; pela Sua ressurreição, Jesus fica em estado de exaltação ou glorificação. «desceu aos Infernos- ressuscitou dos mortos – subiu ao Céu, onde está sentado à direita de Deus, Pai Todo-Poderoso – donde há-de vir para julgar os vivos e os mortos». Do Credo, Símbolo dos Apóstolos. Não é o Inferno da condenação eterna, mas os «Infernos», «lugares inferiores», onde as almas dos «justos» anteriores a Cristo estavam à espera da salvação; antes de ressuscitar no Seu corpo, o Verbo eterno de Deus, unido à Sua alma glorificada desceu aos «Infernos». Assim, a salvação só se dá em Cristo, a sua acção salvífica é universal, estende-se retroactivamente para aqueles que não O conheceram, mas que tinham esperança de Jesus Cristo. DESCEU AOS INFERNOS A ressurreição de Jesus é início da nossa ressurreição do pecado (Rm 6, 3), inserção na vida nova, pela fé e pelo baptismo e, simultaneamente, imagem e penhor, garantia da ressurreição final, total, futura. Toda a humanidade de Jesus, corpo e alma, já lá está, no seio da Santíssima Trindade, um de nós… DONDE HÁ-DE VIR PARA JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS Até ao Fim do Mundo, Jesus permanece junto do Pai, na Sua humanidade exaltada e glorificada, como Mediador entre Deus e os homens; Ele é o Senhor do Universo. SUBIU AO CÉU RESSUSCITOU DOS MORTOS

  26. 3.4 – O significado salvífico da ressurreição de Jesus II. JESUS RESSUSCITADO, NOVO ADÃO E CABEÇA DA IGREJA É através da natureza humana ressuscitada, glorificada de Jesus - «instrumento» universal de salvação que participamos, desde já (embora ainda não visivelmente) pela presença e acção do Espírito Santo, da natureza e comunhão com Deus e futuramente da condição gloriosa da sua humanidade ressuscitada. A isto costuma-se chamar graça, justificação, santificação, divinização, filiação, etc. Jesus é o novo Adão: somos descendentes de Adão, velha natureza e «descendentes» do Novo Adão, pela participação, desde já, na filiação e natureza divina (graça santificante) e na natureza gloriosa da humanidade de Jesus ressuscitado, no futuro. Também é chamado de Cabeça da Igreja, pois Ele, Novo Adão, é Cabeça, pelo Espírito Santo, vivifica todo o Seu Corpo, a Humanidade Nova, cujo sinal sacramental é a Comunidade, a Igreja. III. JESUS RESSUSCITADO, FONTE DO ESPÍRITO SANTO É pelo Espírito Santo que o Novo Adão nos faz participantes da sua Vida Nova, que Jesus ressuscitado, Cabeça da Igreja, a alimenta e vivifica. O Espírito Santo é o grande e permanente Dom do Pai e do Filho ressuscitado à Humanidade. «Contudo, digo-vos a verdade: é melhor para vós que Eu vá, pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas, se Eu for, Eu vo-lo enviarei». Jo 16, 17

  27. 3.5 – Ressurreição e Reencarnação A Reencarnação é defendida pelos orientais, hinduístas, budistas, etc; há também um «modelo ocidental», expandido a a partir do séc. XIX. De forma sumária, diremos que embora tenham alguns pontos em comum, a Ressurreição e a Reencarnação são incompatíveis. • Pontos em comum: • As duas crenças afirmam um sentido para a existência; • As duas crenças dão primazia à ordem espiritual; • As duas crenças são habitadas por uma esperança; • A palavra renascimento é afirmado pelas duas crenças, embora com significados diferentes. • Pontos discordantes: • A concepção da história é diferente: uma é cíclica e indefinida, propõe um eterno retorno; há uma lei cósmica de restabelecimento de equilíbrio, compensação e harmonia; a outra é linear e avança para um termo, um acabamento; • A reencarnação insere-se no dualismo corpo-alma; a ressurreição oferece também a salvação ao corpo; • Há uma dissolução do sujeito na reencarnação, o que põe em causa a identidade e a unicidade da pessoa humana, sujeito insubstituível diante de Deus, capaz de empenhar o seu destino por um acto de liberdade absoluta; • Jesus perde valor, na medida em que é uma reencarnação de um ser, inscrito no ciclo do destino e não o próprio Filho de Deus que encarna num momento da história preciso. «E, assim como está determinado que os homens morram uma só vez e depois tenha lugar o julgamento…» Heb 9, 17

  28. 4. Uma análise de um texto: Mc 16, 1-8

  29. 4.1 – Uma análise de um texto: Mc 16, 1-8 16 As mulheres vão ao sepulcro - 1*Passado o sábado, Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram perfumes para ir embalsamá-lo. 2*De manhã, ao nascer do sol, muito cedo, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro.3Diziam entre si: «Quem nos irá tirar a pedra da entrada do sepulcro?» 4Mas olharam e viram que a pedra tinha sido rolada para o lado; e era muito grande. 5Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca, e ficaram assustadas.6Ele disse-lhes: «Não vos assusteis! Buscais a Jesus de Nazaré, o crucificado? Ressuscitou; não está aqui. Vede o lugar onde o tinham depositado. 7Ide, pois, e dizei aos seus discípulos e a Pedro: 'Ele precede-vos a caminho da Galileia; lá o vereis, como vos tinha dito'.» 8*Saíram, fugindo do sepulcro, pois estavam a tremer e fora de si. E não disseram nada a ninguém, porque tinham medo. É um relato do túmulo vazio, onde Marcos quer levar à compreensão mais pormenorizada de um acontecimento: a Ressurreição de Jesus. v.1 - «Passado o sábado». As mulheres não vão ao túmulo no Sábado, pois é dia de respeito, sagrado, para o judaísmo; Marcos quer dizer que o judaísmo e o Sábado estão ultrapassados pelos acontecimentos que a seguir se narra; Cristo esteve na sepultura no Sábado, que é dia de trevas, de escuridão, de túmulo; é afirmar que o judaísmo é templo de morte; mas é daí, do Sábado, do judaísmo, do túmulo que advém a vida! v.2 - «De manhã». Isto é na aurora, «ao nascer do sol»: primeiro é uma indicação de espaço e tempo; depois, é uma alusão a Cristo ressuscitado, pois Cristo é para as comunidades cristãs primitivas o Sol da Igreja Nascente; o erguer-se do sol é em grego o mesmo verbo utilizado para a Ressurreição de Jesus; Jesus é a luz, a vida das comunidades cristãs; este erguer-se o sol, é o primeiro indício que Cristo ressuscitou!

  30. 4.1 – Uma análise de um texto: Mc 16, 1-8 v.2 - «no primeiro dia da semana»; sempre que as Escrituras nos falam em tempos novos, fala-se em primeiro dia; já no Génesis, Deus separa as trevas da luz e viu que a luz era boa; há aqui a imagem da Luz associada a Jesus e a superioridade da luz sobre as trevas, pois Deus viu que era bom; esse «primeiro dia» é o dia de Cristo Ressuscitado, Nova Criação. O primeiro dia da semana é o Dia do Senhor, aquele em que ressuscitou Cristo Senhor. v.4 - «Quem nos irá tirar a pedra da entrada do sepulcro?». O sepulcro é o lugar das recordações, semelhante ao verbo grego recordar: através do coração a pessoa sente Jesus Ressuscitado («recordar é viver!»); as mulheres estão preocupadas com a pedra, mas para Marcos é mais importante a pedra espiritual do que a física: a falta de esperança de ver Cristo Ressuscitado é a grande pedra. v.5 - «um jovem sentado à direita». Afinal onde elas esperavam a morte, trevas, encontram a vida e vida pujante, não uma vida decrépita personalizada nesse jovem; estava à direita, pois esse é o lugar de honra de Cristo ao lado de Deus. v.4 - «tinha sido rolada».Trata-se de um passivo teológico divino, não se diz quem rolou a pedra, mas sabe-se que foi Deus (os judeus evitavam falar no Seu Nome): Ele afasta a pedra física, fala só a espiritual…

  31. 4.1 – Uma análise de um texto: Mc 16, 1-8 v.5 - «vestido com uma túnica branca». O jovem (cheio de vida), estava revestido de branco, sinal da Luz, de Cristo ressuscitado; «e ficaram assustadas»: de facto onde pensavam encontrar o ratificar da sua falta de esperança, encontram nova esperança; há algo naquele jovem que as inquieta, pressentem algo de especial; trata-se de um «terror sagrado» presente tanto no AT como no NT, que comprova a verdade da ressurreição de Jesus; o «pavor» ou «terror» divinos não deve confundir-se com medo: expressa a reacção do homem face ao sobrenatural, àquilo que não consegue integrar no seu universo quotidiano (por exemplo, Jesus no Getsémani). v.6 - «não vos assusteis». Mesmo com o choque sentido, não há razão para isso, é quase um anúncio messiânico: afinal Cristo não estava ali; «o Crucificado?» - remete para a sexta-feira Santa, dia da Sua morte; «Ressuscitou»: de facto, era verdade, o primeiro sinal foi o erguer-se do sol e agora a afirmação que de facto ressuscitara; a acção de Deus desconcerta o homem, pois as mulheres ficaram ultrapassadas pelo acontecimento; v.6 - «vede o lugar». É tão verdade que ressuscitou que Ele estava ali, mas não está (é quase com a mesma função que o «toca-Me» de Jesus a Tomé na aparição, para que este acreditasse n’Ele).

  32. 4.1 – Uma análise de um texto: Mc 16, 1-8 v.6 - «Não está aqui». O anjo não limita Jesus às quatro paredes do Túmulo, pois Jesus não é limitado ao tempo e lugar; não há nada que O limita; v.6 - «Buscais». As mulheres já estavam inquietas no seu interior, começam a sua busca: a busca é o primeiro passo na caminhada da fé, se não nos pusermos a caminho, não acreditamos e o jovem quer alertar para isso. v.7 - «Ide, dizei a Pedro….». Preocupação de dar a primazia a Pedro; «…da Galileia» - Foi na Galileia que tudo começou, é lá que tudo deve continuar. • v.8 - «Não disseram nada a ninguém, porque tinham medo». Marcos sublinha o Segredo Messiânico; ele quase provoca o leitor, pois deixa este antever que mais tarde, Deus fez com que eles anunciassem a Cristo Ressuscitado, com os ânimos acalmados. Estavam assustados porque anunciar Cristo Ressuscitado é uma responsabilidade tremenda: face ao Deus que Se revela o homem treme. • Este silêncio das mulheres mostra que ficaram transtornadas, perderam a cabeça; de facto, Deus apanhou-as de surpresa; • Por outro lado, o reagrupamento dos discípulos na Galileia e o anúncio não sejam devido ao que as mulheres dissessem ou não, mas à iniciativa do Ressuscitado; é o próprio deus que nos atira para o futuro. Este relato quer-nos levar a penetrarmos mais profundamente no Mistério que Cristo ressuscitou e está Vivo e continua hoje presente, a operar sinais.

  33. III – Jesus Cristo: Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem «É preciso confessar (…) um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Monógeno, reconhecido em duas naturezas sem confusão nem mudança sem divisão nem separação» Concílio de Calcedónia (451)

  34. 1. A divindade de Jesus Cristo: a relação de Jesus com Deus

  35. 1 – O reconhecimento da divindade de Jesus Cristo Jesus na Tradição de Israel. Do Jesus histórico ao Cristo da fé. 1ª fase – Cristologia mais funcional, concreta, tipicamente hebraica: o que significa Jesus Cristo para nós? 2ª fase – Cristologia mais ontológica, virada para o ser de Jesus: quem é Jesus em si-mesmo?Esta Cristologia ontológica, em ligação com a Teologia da Trindade, culmina nos grandes Concílios Cristológicos de Niceia (325), Éfeso (431) e Calcedónia (451). O título principal é o de MESSIAS (em grego, o Cristo, em português, o Ungido). A este juntam-se outros: Rei de Israel, Filho de David, Servo de Javé, Filho do Homem e Filho de Deus. O Messias virá no Fim dos Tempos, será o Ungido de Deus, será o Novo Moisés, o Salvador de Israel, e será o Mediador da Nova e Eterna Aliança. À luz da ressurreição de Jesus Cristo e do Pentecostes, a Primitiva Comunidade Cristã começa a reflectir sobre a Pessoa de Jesus Cristo; deste esforço nascem os escritos do NT (Evangelhos, cartas…); o reconhecimento da sua divindade é progressivo; utilizam temas, categorias, profecias, etc. do AT, o que comporta diversos títulos a Jesus.

  36. 2 - A Tradição sinóptica Jesus, o Messias, Filho de Deus A vida pública de Jesus, a proclamação do Reino de Deus, no seu conjunto, é uma manifestação do poder de Jesus, acompanhado pelos milagres, gestos extraordinários e salvíficos que constituem uma confirmação, embora provisória da reivindicação da Sua autoridade; dá também aos apóstolos o poder de operarem milagres em Seu nome (cf. Mt 10, 1.8…). DOIS MOMENTOS IMPORTANTES NO EVANGELHO DE S. MATEUS PARA RECONHECER JESUS COMO O CRISTO: Primeira confissão de fé da Comunidade Cristã em Jesus como o Cristo, o Messias, o Filho de Deus. 2º 1º «E vós, quem dizeis que Eu sou? Tomando a palavra, Simão Pedro disse: Tu és o Messias (o Cristo), o Filho de Deus vivo. E Jesus respondendo disse: Feliz és tu, Simão, filho de João, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas sim Meu Pai que estás nos Céus» Mt 16, 13-20 O Sumo Sacerdote disse-lhe: «Intimo-te, pelo Deus vivo, que nos digas se és o Messias, o Filho de Deus.» Jesus respondeu-lhe: «Tu o disseste. E Eu digo-vos: Vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.» Mt 26, 63-64 Jesus pelos Seus sinais e Palavra, Se dá a conhecer como o Messias esperado, mas um Messias diferente…

  37. 2 - A Tradição sinóptica Do Messias, Filho de Deus, a Deus-Filho Jesus pretende ser um Messias maior do que o esperado, o Filho de Deus. Jesus, progressivamente, vai fazendo evoluir a concepção judaica de Messias, não só um Messias-homem, mas um Messias que sem deixar de ser homem, é divino, não só um Filho de Deus, mas o Filho de Deus, Deus-Filho. Este longo processo, realiza-se nos sinópticos, por dois modos distintos, mas relacionados: 1º Pela Sua acção e gestos, realiza acções «exclusivas» de Deus, apresentando-Se como Senhor absoluto, em pé de igualdade com Deus: Jesus é Senhor: dos corpos e da vida (cura, ressuscita…), dos demónios (expulsa-os, ordena-lhes…), do pecado, do mal (perdoa os pecados, em pé de igualdade com a Lei e Deus), da Natureza (sossega as tempestades, multiplica os pães…), dos Homens (exige a fé nele e um amor que tudo ultrapassa, o que só pode ser exigido por Deus). 2º Jesus atribui-Se títulos do AT, que superam a concepção de um Messias humano, alguns só aplicados a Deus: Filho, mas Senhor de David(descendente De David, conforme a promessa, mas sentado à Direita do pai, isto é, em igualdade com Deus) Maior que Moisés, Jonas, Salomão e Elias. Senhor do Sábado, da Lei e do Templo Juiz universal (retratado pelo «Filho do Homem)

  38. 3 - O reconhecimento dadivindade de Jesus nos escritos joaninos Corresponde a um estrato posterior e mais elaborado, explora a relação de Jesus com Deus, seu Pai, quer através de títulos e funções como os sinópticos, quer através de afirmações explícitas da divindade de Jesus, da sua igualdade e comunhão de natureza com o Pai, como seu Filho e Revelador. JESUS AFIRMA-SE EXPLICITAMENTE IGUAL A DEUS PAI: Primeira confissão de fé, explícita e integral, na divindade de Jesus: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28)

  39. 4 - A divindade de Jesusnos escritos paulinos Hino cristológico na Carta aos Filipenses: «5Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus: *Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; 7*no entanto, esvaziou-se a si mesmo,tomando a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, 8*rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à mortee morte de cruz. 9*Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudoe lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome,10*para que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seresque estão no céu, na terra e debaixo da terra; 11e toda a língua proclame: «Jesus Cristo é o Senhor!», para glória de Deus Pai». Fl 2, 5-11 S. Paulo exprime algumas vezes a sua fé na divindade de Jesus, chamando-O directamente Deus; por exemplo: Tito 2, 13: «aguardando a bem-aventurada esperança e a gloriosa manifestação do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo». Hb 1, 8: «a respeito do Filho, diz: O teu trono, ó Deus, permanece pelos séculos dos séculos e ceptro de justiça é o teu ceptro real». Cl 2, 9: «Porque é nele que habita realmente toda a plenitude da divindade,» Etc, etc. S. Paulo chama a Jesus de Kyrios (Senhor); era a tradução grega dos nomes divinos hebraicos, Adonai e Javé, nome aplicado para designar o Deus de Israel, único Deus verdadeiro. É mais importante este facto do que chamar directamente «Deus» a Jesus dada a pouca estima que os deuses tinham no mundo greco-romano de Paulo (deuses cruéis, vingativos, ao sabor das paixões…). S. Paulo reconhece a filiação divina de Jesus; por exemplo: «é n’Ele e por Ele que tudo foi criado… e tudo n’Ele subsiste» (Cl 1, 15-17). S. Paulo reconhece a divindade de Jesus, sobretudo centrado nos títulos de «Senhor» e de «Filho».

  40. 5 - A divindade de Jesusnos primeiros Símbolos da Igreja e nos Santos Padres Muito antes das definições dogmáticas dos grandes concílios do séc. IV e V, já os Credos cristãos declaram decididamente a divindade de Jesus Cristo. SÍMBOLOS CRISTÃOS Um exemplo é o símbolo «QUICUMPE» do séc. II, que afirma: «é portanto fé ortodoxa, que acreditamos e confessamos que nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem. Deus, gerado antes de todos os séculos da substancia do Pai, e homem nascido no tempo, da substância da mãe, perfeito Deus e perfeito homem». PADRES APOSTÓLICOS A Didaché confessa Jesus Cristo como Senhor, como Deus de David. S. Clemente de Roma (96) dá a Jesus o título de Senhor e presta-lhe culto divino. Santo Inácio de Antioquia (107) designa Jesus como Deus, considera-O criador do mundo e reconhece-Lhe atributos divinos e a verdadeira filiação divina. Também encontramos isso na Epístola de Barnabé, Carta S. Policarpo aos Filipenses, etc. SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA PRIMEIROS APOLOGISTAS Os apologistas do séc. II e III ensinam também a pré-existência e divindade de Jesus Cristo, socorrendo-se do conceito de Logos – Verbo – do Pai (S. Justino, Santo Hipólito, Orígenes, Tertuliano, etc.).

  41. 2. A humanidade de Jesus Cristo: a relação de Jesus connosco

  42. 2.1 - A realidade da natureza humana de Jesus Cristo A fé cristã ortodoxa sobre a Humanidade de Jesus Cristo, pode condensar-se em três afirmações: 1ª- Jesus Cristo era dotado de um verdadeiro corpo e não da simples aparência de um corpo (contra o docetismo e gnósticos); 2ª - Era dotado de alma racional (ou espiritual), sublinhando-se a integridade humana (contra arianos e apolinaristas); 3ª - Jesus foi realmente concebido e nasceu de mulher, filha de Adão, a Virgem Maria, sendo portanto igual à nossa natureza adâmica, verdadeiramente humana. 1ª A afirmação de seu corpo. Desde o início, a Igreja afirmou a realidade do corpo humano de Cristo, afirmações patentes nos mais antigos credos cristãos, que se referem expressamente aos diversos acontecimentos da vida terrestre de Jesus (concepção, nascimento, paixão e ressurreição) e no termo de longas polémicas consagrada no CONCÍLIO DE CALCEDÓNIA (451), que chama a Jesus Cristo, «verdadeiro Deus e verdadeiro homem». HERESIAS CRISTOLÓ-GICAS: DOCETISMO (fim séc. I, início II) – difundida por Marcião, Valentim, etc. O corpo humano de Jesus, a sua carne, era apenas uma aparência de corpo. MANIQUEISMO E PRISCILIANISMO. Consideram o corpo como sede do mal: uma união de Deus com corpo humano seria impensável| Tanto S. João nas suas cartas (1 Jo 4, 2) como S. Inácio de Antioquia (morreu em 107) lutam contra este erro; Jesus é verdadeiro homem que come, bebe, cansa-se, caminha, chora, admira-se... Jesus caminhou pelas estradas oeirentas de Israel... Jesus viu com os seus olhos, crianças inocentes, homens doentes, fariseus complicados... Jesus também amou com coração humano.

  43. 2.1 - A realidade da natureza humana de Jesus Cristo 2ª A afirmação da sua alma. A Igreja sempre afirmou em Jesus Cristo, além da realidade do seu corpo, a realidade da sua alma racional (ou espírito). ARIAMISMO (doutrina difundida por Ario, séc. IV): para ele, o Logos divino tinha assumido um corpo sem alma; defendeu ainda, como veremos, em termos trinitários, que o Logos e o Pai não eram da mesma essência, que o Filho era uma criação do Pai e que houve um tempo em que o Filho ainda não existia (primeira criatura do Pai, pelo que inferior a Ele). NOTA: esta doutrina continua hoje em dia; por exemplo, as Testemunhas de Jeová seguem o arianismo. HERESIAS CRISTOLÓ-GICAS: APOLINARISMO (doutrina difundida por Apolinário de Laodiceia, séc. IV): Jesus não tinha alma humana, porque esta seria pecaminosa, mas a alma espiritual era substituída pelo Logos divino. Foi condenado num Sínodo de Alexandria presidido por Santo Atanásio (362), declarado heresia no I Concílio de Constantinopla (381) e no Concílio de Calcedónia (451), diz-se: «Ele é perfeitamente…na sua humanidade… um homem verdadeiro, composto de uma alma racional e de um corpo… É semelhante a nós pela sua humanidade». SANTO ATANÁSIO Em que se baseia a Igreja para afirmar a alma racional de Jesus, da integridade da sua humanidade? 1º – expressões de Jesus em que fala da sua alma ou espírito: «a minha alma está triste até à morte» (Mt 26, 38); «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23, 46), etc. 2º - Na vida e conduta de Jesus que manifestam n’Ele, inteligência, vontade e liberdade (características da espiritualidade da alma): Jesus entristece-Se, alegra-Se, chora, pede, agradece, admira-Se, etc. A sua vontade é distinta da do Pai: «Não se faça a minha vontade, mas a Tua» (Lc 22, 42). Se não é dotado de corpo e alma racional, então a sua natureza não é a nossa, não seria assumida por Deus e por isso não estaríamos salvos!

  44. 2.1 - A realidade da natureza humana de Jesus Cristo 3ª A origem adâmica da natureza humana de Cristo. Jesus foi concebido e nascido de uma verdadeira mulher, a Virgem Maria, filha de Adão, isto é, da nossa estirpe e raça humana. • O NT teve o cuidado de realçar o carácter adâmico de Jesus Cristo: • As genealogias de Mateus e Lucas, sublinhando a sua descendência de Abraão e David; Fazem descender Jesus de «situações irregulares»: amor incestuoso de Judá por sua nora Tamar, da prostituta Raab, que acolhe os exploradores israelitas, do homicídio e adultério de David, com a «esposa de Urias», da qual nasceu Salomão; • Nos relatos da concepção e nascimento de Maria, há a preocupação de «através de maria» se tornar nossa irmão de verdade, da nossa carne… «Maria, da qual nasceu Jesus» (Mt 1, 16), «nascido de mulher» (Gl 4, 4), etc. A inserção e inclusão salvadora de Jesus na verdadeira humanidade, é feita através de Maria («nasceu da Virgem Maria»). «…natum est ex Maria Virgine…»

  45. 3. A relação entre a divindade e a humanidade de Jesus Cristo

  46. 3.1 - A unicidade da pessoade Jesus Cristo Doutrina ortodoxa da Igreja Católica: a natureza divina e a natureza humana estão, em Jesus Cristo, unidas entre si, hipostaticamente, isto é, na unidade da pessoa divina (afirmação de Calcedónia). Em Jesus Cristo há uma única pessoa, a pessoa divina do Logos (ou Filho) e duas naturezas (a divina e a humana), sustentadas por essa única pessoa divina. NESTORIANISMO: heresia difundida no século V por Nestório, patriarca de Constantinopla: o filho da Virgem Maria é diferente do Filho de Deus; em Cristo há duas pessoas, uma divina e outra humana; o que pensaríamos de um homem que tenha duas pessoas ou duas personalidades incorporadas no seu ser? Qual seria a que mandava? Que luta dentro do mesmo ser! HERESIAS CRISTOLÓ-GICAS: • Contra Nestório, S. Cirilo de Alexandria lança os seus anátemas, reconhecidos mais tarde pelos concílios como doutrina católica: • - Jesus Cristo, com o corpo que lhe é próprio, é uma só pessoa, ao mesmo tempo Deus e homem; • Jesus Cristo não é apenas portador de Deus, mas verdadeiro Deus; • Os predicados humanos (nascimento, sofrimento, morte, etc) e divinos (criação, omnipotência, eterni9dade, etc) mencionados nas Escrituras não devem ser repartido por duas pessoas o homem-Cristo e o Logos divino; mas foi o Logos que Se fez carne, o único Cristo, que sofreu, foi crucificado, morto e ressuscitou na carne; • A Virgem Maria é Mãe de Deus (theotókos), gerou da sua carne o Logos divino que Se fez homem. SÃO CIRILO DE ALEXANDRIA

  47. 3.1 - A unicidade da pessoade Jesus Cristo ADOPCIONISMO: heresia difundida no século VIII e IX com Elipando, arcebispo de Toledo e Félix, bispo de Urgel, segundo a qual haveria em Jesus uma dupla filiação: como Deus, era Filho natural de Deus; como homem, o filho adoptivo de Deus; Jesus foi adoptado por Deus como seu Filho; isto equivale a duas pessoas em Jesus Cristo, o que desembocaria no Nestorianismo. «quod non erat assumpsit; quod erat permansit»: assumiu o que não era (humanidade) e permaneceu o que era (pessoa e natureza divina). COMEÇO E DURAÇÃO DA UNIÃO HIPOSTÁTICA: Iniciou-se no momento da sua concepção: «Desde o instante em que começo a ser homem, é Deus também»; não havia alma espiritual humana unida ao Verbo antes da Encarnação, como dizia Orígenes. A União hipostática jamais foi interrompida, mesmo na morte de Jesus: a divindade não se separou da sua humanidade, não cessará jamais; Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, permanece também agora e eternamente, ressuscitado, glorioso, no céu, permanece verdadeiro Homem. Só o Filho encarnou (a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade), mas o acto da união hipostática foi obra de toda a Trindade em comum, como veremos em próximos encontros.

  48. 3.2 - A dualidade dasnaturezas MONOFISISMO: heresia difundida no século V por Eutiques, que sustentava uma única natureza em Cristo, a divina, anulando a humana; contra esta heresia levantou-se o Concílio de Calcedónia (451), pois em Cristo há duas naturezas, uma humana e uma divina; se Cristo não tivesse natureza humana, a verdadeira humanidade de Jesus desaparece com ela a obra da Redenção; se não fosse humano, não realizaria as actividades humanas relatadas nos Evangelhos! HERESIAS CRISTOLÓ-GICAS: MONOTELISMO: heresia difundida no século VII por Sérgio, patriarca de Constantinopla, que sustentava uma só vontade de Cristo, a divina; mas, o que é uma natureza humana sem vontade humana própria? O monotelismo contradiz aas Escrituras: «Não o que Eu quero mas o que Tu queres (Mt 20, 39), «não a minha vontade mas a Tua» (Lc 22, 42), etc. No III Concílio de Constantinopla a Igreja deu resposta (680-681): «há n’Ele duas vontades físicas e dois modos físicos de acção», «estas duas vontades não são oposto0s uma à outra». A vontade humana submete-se, sem oposição, com amor, à vontade divina. PERICORESE (OU CIRCUMINCESSÃO) CRISTOLÓGICA X É o nome que se dá à compenetração mútua das duas naturezas de Cristo, mantida pela força da natureza divina; elas existem uma na outra e não lado a lado, unidas uma à outra (algo semelhante acontece na Trindade, como veremos). NATUREZA HUMANA NATUREZA DIVINA Mas continuam distintas entre si… NATUREZA HUMANA + NATUREZA DIVINA

  49. 3.3 - Consequências daunião hipostática A ADORAÇÃO DE JESUS CRISTO.Jesus Cristo, Deus e homem, deve ser honrado com um só culto, o culto absoluto de latria (adoração) que pertence exclusivamente a Deus: «que todos honrem o Filho como honram o Pai» (Jo 5, 23). A humanidade de Cristo é objecto de adoração, não por ela mesma, mas por causa da união hipostática indissolúvel. O culto é prestado à pessoa e não á natureza: em Cristo, há só uma pessoa, o Logos divino, que Se fez carne. Porque é legítimo adorar a totalidade da natureza humana de Jesus Cristo, unida indissoluvelmente ao Verbo, pela mesma razão é legítimo adorar partes distintas da sua humanidade: chagas, precioso sangue, Sagrado Coração, etc. Nessas partes ou mistérios o Amor redentor de Cristo se expressa de particular significado. A «COMUNICAÇÃO OU TROCA DE IDIOMAS OU PREDICADOS».Cedo se colocou o problema de atribuição dos diferentes predicados, uns divinos outros humanos, à pessoa e às naturezas. Em Jesus Cristo, o Filho do homem não é pessoalmente distinto do Filho de Deus;Em virtude da união hipostática, há comunicações de idiomas, isto é; denominações, propriedades e acções das duas naturezas em Jesus Cristo, que podem ser atribuídas à sua pessoa, de modo que se pode dizer: Deus morreu por nós, Deus salvou o mundo, Deus ressuscitou…

  50. 3.3 - Consequências daunião hipostática O MISTÉRIO DA UNIÃO HIPOSTÁTICA: CONCLUSÃO. É um mistério de fé que não pode ser conhecido pela Razão Natural sem a Revelação, mesmo depois da Revelação, não pode ser totalmente compreendido; estando para lá da Razão, não está contra esta, mas supera-a. 1º Nada impede que uma pessoa divina tenha assumido uma natureza humana, pois não é contrário à imutabilidade divinas. Não acrescentam nada a Deus; a única mudança verifica-se na natureza humana, na criatura. 2º 3º A natureza humana de Cristo não é uma pessoa humana porque foi introduzida na pessoa divina do Logos; em Cristo, não há duas pessoas, mas apenas uma. Nada impede que uma natureza humana e uma divina se unam, não se trata de uma mistura ou simbiose: impossível unir as naturezas numa só. Segundo Calcedónia, permanecem distintas e em plena integridade. Deus, dada a infinitude divina do Logos, tem a capacidade de possuir, além da natureza divina, a natureza humana; a natureza humana, em razão do seu carácter espiritual, inteligência e vontade e consequente abertura á Verdade e ao Bem Infinitos, tem a capacidade de ser elevada à subsistência de uma pessoa divina. 4º

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