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MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS. ou de Santa Maria de Belém.
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MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS ou de Santa Maria de Belém
Dentre os monumentos históricos de Portugal, o Mosteiro dos Jerónimos é, sem dúvida, um dos mais importantes e significativos. Símbolo da epopeia marítima portuguesa, celebra o descobrimento de novas terras e caminhos, nomeadamente o Caminho Marítimo para a Índia.
Situa-se no local onde existia a ermida da Ordem de Cristo de Nossa Senhora de Belém, em que foi rezada a missa, assistida por Vasco da Gama e seus companheiros, no dia da partida da armada para a Índia. Em função da sua beleza e importância, foi considerado Monumento Nacional e inscrito no Património Mundial da UNESCO.
Sua construção, iniciada por D.Manuel I (1501 ou 1502), prolongou-se também pelos reinados de D. João III, D. Sebastião e os Filipes de Espanha (que reinaram em Portugal, de 1580 a 1640), sendo outras alterações e/ou reconstruções realizadas posteriormente. O financiamento do projecto foi garantido pela concessão aos frades Jerónimos, em 1503, da vintena das mercadorias vindas da Índia.
Apesar de todas as vicissitudes ocorridas na construção e das profundas transformações que sofreu a área evolvente, Portugal deu ao mundo um património dos mais importantes e bonitos de toda arquitectura europeia, no que respeita à articulação harmoniosa do Gótico, Manuelino, Renascentista e Maneirismo.
Com uma fachada de cerca de 300 metros, o Mosteiro dos Jerónimos situa-se junto ao Rio Tejo, tendo a separá-los, actualmente, um grande e belo jardim. É constituído por vários corpos de tamanho desigual, obedecendo, contudo, a um princípio de horizontalidade, com zonas praticamente nuas e outras de maior concentração decorativa, parecendo autêntica renda de pedra.
A FACHADA SUL DO MOSTEIRO Na fachada Sul do Mosteiro, quase paralela ao Rio Tejo, sobressaem, da esquerda para a direita, quatro zonas ou corpos dominantes. O primeiro é constituído pelo Mosteiro dos Frades, antigo dormitório dos frades Jerónimos, com as suas 28 arcadas térreas, onde hoje se encontram instalados o Museu da Marinha e o Museu Nacional de Arqueologia.
O segundo corpo dominante da Fachada Sul corresponde à Igreja com as suas naves, janelões e o lindíssimo Portal Sul.
O terceiro, qual fortaleza, corresponde ao corpo da Capela-Mor maneirista, contrastando com o restante pela quase ausência de ornamentação e de aberturas para o exterior.
Finalmente, destaca-se a cúpula da torre da igreja, construída no século XIX.
A IGREJA DO MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS
O PORTAL SUL (porta de entrada lateral da igreja) É uma das peças arquitectónicas mais ricas da arquitectura portuguesa, relativamente ao gótico tardio. A sua autoria deve-se ao mestre João de Castilho (embora o traço inicial, segundo se julga, seja ainda de Boytac) os trabalhos de execução devem ter-se iniciado em 1516.
Este majestoso pórtico é ladeado por dois janelões; eleva-se a cerca de 32 metros de altura com um cume triangular, encimado por um nicho com o Arcanjo São Miguel.
Mais abaixo, na vertical, pode observar-se Nossa Senhora dos Reis com o Menino, ostentando na mão o vaso de oferendas dos Reis Magos. No mesmo plano e um pouco mais acima, uma multidão de estátuas povoa a floresta de colunelos, mísulas baldaquinos e agulhas que, ao longe, dão um aspecto de um rendilhado de pedra. No plano inferior, encontra-se um conjunto de Apóstolos, de ambos os lados do Infante D. Henrique, armado cavaleiro, que se encontra entre as duas portas, ao cimo do mainel que tem leões na base.
O PORTAL OCIDENTAL (porta principal da igreja) Este portal, que é a verdadeira entrada da igreja, é da autoria de Nicolau Chanterêne (1517), que o decorou com cenas do nascimento de Jesus.
No cimo do arco encontram-se três nichos: no centro e cimeiro, a cena do Presépio de Belém; a Anunciação à esquerda, e A Virgem com os Reis,Magos, à direita Mais a baixo, à esquerda, o rei D.Manuel I, com S.Jerónimo e, do lado contrário, a sua segunda mulher D.Maria, com S.João Baptista. Quatro evangelistas são representados mais abaixo e, já na parte do espaldar, a meia altura, o Infante Santo D.Fernando, S.Vicente e outras figuras
O INTERIOR DA IGREJA Ao entrar-se na igreja pela porta ocidental, caminhando na direcção da Capela-Mor, é uma experiência, inolvidável e única. De facto, à obscuridade da entrada, à medida que nos vamos aproximando, a pouco e pouco, de espaços mais amplos, somos confrontados com um aumento progressivo da luminosidade, que é acentuada pelo contraste axial entre a nave e o transepto e, ainda, pela diferente textura das abóbadas…
A Igreja possui seis colunas, três por cada nave, e outras duas mais recuadas, no suporte do Coro-Alto. Os pilares esguios parecem pender do tecto, sendo esteticamente de singular concepção. A cobertura das naves têm um complexo articulado de nervuras, cuja execução deve-se a João Castilho.
Quando entramos pela porta Ocidental deparamos com duas Capelas quadradas. A da esquerda, do Senhor dos Passos (inicialmente dedicada a Santo António de Lisboa), revestida de talha dourada seiscentista, com imagens barrocas colocadas em nichos; e do lado contrário, o Baptistério, com a sua pia baptismal neomanuelina.
Continuando, deparamos com duas magníficas arcas tumulares, à esquerda a de Vasco da Gama (o Herói das descobertas) e à direita a de Luís de Camões (Cantor desses feitos) - da autoria do escultor Costa Mota Tio (1894), que foram ali colocadas em 1940.
Se perseguirmos andando lentamente, verificamos uma suave ambiência, uma harmoniosa proporção, uma luz suave entrada pelos actuais vitrais que já são do século XX, que nos leva à transcendente reflexão. Então, se nos sentarmos, podemos olhar para a harmonia das abóbadas, a beleza das colunas, dos diversos nichos e do Altar-Mor, constatamos que estamos em presença dum monumento dos mais significativos da arquitectura portuguesa, senão mundial, do século XVI.
ALTAR-MOR A actual Capela-Mor deve-se a D. Catarina de Áustria, regente do reino entre 1557 a 1562 (tia de Filipe II) para onde foram transladados os restos mortais de D. Manuel e de outros membros da Família Real.
O traçado é de Jerónimo Ruão e, embora contraste com o corpo manuelino, não deixa de ser uma obra-prima do classicismo maneirista peninsular, tendo sido inaugurada em 12 de Outubro de 1572. Nos nichos entre três pares de colunas jónicas e coríntias, repousam os reis D. Manuel I e D. Maria, do lado do Evangelho (esquerdo), e D. João III e D. Catarina no lado da Epístola (direito). Nas Capelas do Transepto, reservadas aos infantes, estão os filhos de D. Manuel na Capela do lado do Evangelho e os de D. João III do lado dos pais (Epístola).
Também aqui se nota uma disposição ambígua, típica do Maneirismo própria daquele arquitecto, no final do século XVI, alternando os nichos para as sepulturas com outros destinados a altares. É ladeado por um arco demasiado alto que abriga um túmulo régio, na capela norte do cardeal-rei D. Henrique e na capela do sul, o cenotáfio com os restos recolhidos no campo de Alcácer-Quibir, que se julga serem do malogrado D. Sebastião.
Todo este conjunto teria sido iniciado em 1587 e concluído já no século XVII. Finalmente, salienta-se a ausência de alusões fúnebres, porquanto o próprio edifício, que ao fim e ao cabo, constitui o mausoléu, foi concebido para simbolizar a superação e anulação da morte perante os valores da vida.
CORO ALTO A parte do mosteiro, mais atingida pelo terramoto de 1755, foi precisamente o coro-alto, caindo a balaustrada e dois altares que a ela se apoiavam. Foi reconstruído em 1883, conservando ainda o pavimento primitivo, em ladrilho azul e roxo.
É no Coro Alto que se guardam duas das peças mais valiosas do mosteiro: O Cristo da Cruz oferecido pelo infante D. Luís, da autoria do entalhador flamengo Filipe de Brias ou Phelippe de Vries (1551), de um expressionismo impressionante, quase barroco.
O Cadeiral, um conjunto de 60 cadeiras (originalmente eram 84), cujo desenho se deve ao arquitecto Diogo Torralta e execução, por volta de 1550, pelo mestre de marcenaria Diogo de Çarça, que também teria feito a estante de canto para livros. No seu conjunto, é uma grande obra de talha que nos ficou do Alto Renascimento Português.
CLAUSTRO É considerado uma obra de valor universal, pela sua concepção arquitectónica, pela profusão de decorações esculpidas, pela evocação histórica, pela sua originalidade, entre outros factores. Foi sob a direcção de João Castilho que grande parte do claustro se acabou.Todavia, há uma combinação harmoniosa entre o naturalismo de Boytac, com as novidades introduzidas por João Castilho, não havendo, por conseguinte, um contraste gritante entre as duas linguagens artísticas, uma do século XV e outra, já do século XVI.
No Claustro dispõem-se, ao longo das paredes, um conjunto de medalhões figurando a Paixão de Cristo, bem como a heráldica portuguesa, relativa a D. Manuel I, distinguindo-se a leitura do religioso e do profano. Da mistura às alusões régias, que se repetem constantemente, encontram-se grandes retábulos da parede fronteira, com três capelas: Anunciação, Assunção e São Jerónimo. Esta última é ocupada, desde 1985, pelo túmulo do poeta Fernando Pessoa, falecido em 1935.
SALA DO CAPÍTULO A Sala do Capítulo permaneceu inacabada por três séculos e meio, servindo de capela. Foi completada em 1886, para albergar o túmulo de Alexandre Herculano. As estátuas são de Simões de Almeida e a abóbada, do Engenheiro R.Valadas.
REFEITÓRIO DOS MONGES Executado em 1517, por Leonardo Vaz, o Refeitório tem as paredes revestidas por um silhar de azulejos que datam do século XVIII (1780-1785), representando o milagre da Multiplicação dos Pães e cenas da vida de José do Egipto.
SACRISTIA Ampla sala, quase quadrada, com uma original abóbada irradiando de uma única coluna central, revestida de temas renascentistas. Sobre o espaldar do armário seiscentista para guardar as alfaias da igreja, uma fieira de 14 ilustrações da vida e a obra de São Jerónimo, do pintor maneirista (1600 -1610), possivelmente de Simão Rodrigues. E outras telas atribuídas a António Capelo e a Josefa de Óbidos.