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Cenário antigo Nas lonjuras, lá onde a infância corria

osmond
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Cenário antigo Nas lonjuras, lá onde a infância corria

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Presentation Transcript


  1. Sou Lázara(promessa de uma bisavó) Dulce (igual a avó paterna) Ribeiro(que também poderia ter sido Coutinho ou Rezende, dos meus familiares paternos) Papandrea (adquirido com o matrimônio). Sou formada em História e já lecionei por dez anos consecutivos. Atualmente curso Teoria Literária na UFJF. Sou mineira de Pouso Alegre e vivi vários anos no nordeste. Hoje moro em Juiz de Fora e trabalho com vendas na área de alimentos. Tenho a oportunidade de conviver diariamente com a gente simples do meu povo e neles encontro encanto e poesia. Escrevo porque necessito escrever. É minha terapia.

  2. O silêncio de onde vimVim de um silêncio de bocas verdesrecendentes a jasmim.De pastagens de orelhase ruídos de bois.Vim de um silêncio de manhãs de barrigas abertas,que berravam incendiárias do alto da serra.Um silêncio de terra virgem e de terra-terra,pisada de homens e mulas.De mato assustado e sabiá assanhada nos laranjais.De flor de goiabeira e bicho de goiaba.Um silêncio de mato e de brejoE tardes repletas de pássaros!Vim de um silêncio de vento em pelo e cavalo bravo.De boca riscada e céu arisco.Toda a boiada morava neste silêncio.Um silêncio de vida e de morte.Um silêncio forte de campo e de sertão!Um silêncio de corte afiado de foice[sangue jorrando no pé]E de coice de cavalo na barrigacurado à salmora e vinagre.Um silêncio de lagoa e bagre e ferrão de bagreatravessado na sola do pé.Um silêncio de buraco no céue vara de chacoalhar estrelassó para vê-las azuis, vermelhas e amarelas em ciscos-piscos no olho dos vagalumes.Um silêncio de cantar a vida inteira uma saudade também inteirada serra onde nasci!

  3. Das minhas mineiras manhãstrago caminhos escarpados.Um anjo barroco bem vivo.O tropejar das mulas com seus fardos.Um pouco de ouro antigo.Históricas ruas.E o eco dos sinos a desnudaremmontanhas já nuas!Das minhas mineiras manhãsTrago uma braçada de enfeite.Doce-de-leite derretido.Arroz-doce com cravo.Memórias cimentadas no terreiro.Uma boa dose de afago.E meu precavido beijo mineiro Mineira ManhãDas minha mineiras manhãstrago uma reza.Café com queijo.Muitas promessas.E nenhuma pressa.Trago o vento da noite[que amansei no pasto].Um casto orvalho.E o canto deste galoamanhecido e rouco.Trago um poucodo cheiro de casa varridaa alecrim.O gosto de carne de porco.E o rangido sem fim do carro de boipasseando por mim.

  4. Em minhas roupasum espatifado de ventosem rumo.Sem sentido!Grãos de tarde indo cedo.E o medo revisitado tantas vezespor outros medos!Em minhas roupas,as reses e o curral.Cheiros de Minas.E liberdade de Minas!Oficinas de sonhos.Vento.Pastos.Alagados.Várzeas inteiras de solidão! VestimentasEm minhas roupas,silêncios.Antigos medos.Lonjuras que não adentrei!Cheiros guardadosna narina do tempo.E guardados onde nem sei!Em minhas roupasa casa amarela à esperados botões que faltam.O jardim.O portão.Dobradiças.Quartos.Saudades!Em minhas roupasos dedos lisos de minha mãeà cata de linhas e ilusão.Verdades!O passado encardidoque não lavei.Uma rosa sem cheiroa escorrer canteirosdo que não vivi!

  5. InusitadoOs bois pastavam a serra com avidezE para minha surpresaela não lhes era indigesta!A serra cabia todinhano olho e na barriga daqueles bois.Só sobrava a tarde como fresta.Eles comiam a serrae cuspiam pedaços da tarde pelos olhos!

  6. lá,nas lonjuras do nunca maisminha avócuspia silêncios na bocado fogoe aprisionava arrulhospara o cafédamanhãestranho arremedo que logo morriano chão encardido da cozinhamesa postavida arredia!Minha avó era retratoenem ela sabia! Cenário antigo Nas lonjuras,lá ondea infância corria pétalas de formiga,em andança,pelos roseiraislá ondea sabiábulia,folhas secasejornais!

  7. TravessiaVou.com um pé de cada veze um calo[de silêncio ]em cada mão.Esvazio-me.Quando for de novo tempoesqueço em outro lugar esta vontade de lírioretratada em solidão!Voue vou-me a fino,a cansar-me de irenquanto uma qualquer saudadejá se atropela de mim!

  8. Grito!escrevo nua em pelopara me livrardo aflitodesta esperaselo condições,nas pedras!corto à foice as celasque habitoÀ janelafuro porosno papel do arenvidro-meenlevo-mecom o vácuo da vida! Desconexoescrevo verrugasna peledo tempocomo quem tatua ventonas dunasescrevo mansamenterunas mortas,mesmo que a chuva arruíneas portas que adentroescrevo vidae assopro intentospelo corpo do céuescrevo lindoescrevo ao léu!não lido,não sei lidar com o infinitoO azulfrito em melme desespera!

  9. Quase solidãoAbocanho o muro, a praça, o sonho.Varo a tarde em silêncioe venho sentar-me à varanda do tempo[Ainda do teu lado]Meus olhos pulam de contentamento.Pouco sabem da quietude de hoje!E hoje...Ainda nem tentei um poema[não é o momento!]Só cisquei umas palavras estéreisque não valem o vento, a pena nem o papel.Abocanho o muro,a praça, a cena, o sonho[E o céu do sonho!]Estou a entardecer a palavra para não chorar!Sou quase solidão!

  10. Gosto dos que batem palmasDos que desejam sem medo.Desejam de fato!Daqueles que sabemque não há mal algumem se lambuzar de ilusõese rasgar os sonhos no asfaltoQue se partem em mil pedaçossó para se recomporQue trazem os olhos gastos, de amor!Gosto de quem se gostasem omissõesDaqueles que aprendemfácilDaqueles que veem a chuvacair coloridaQue sabem banhar em desejoso corpo da vida! De gostos Gostode quem se gostaDe quem se enrosca na vidaDos eloquentes!Daqueles que voamrente às estrelas.Que ardem em centenasde chamas em breves segundos.Daqueles que fazem cócegasno fundo do céucom as sobrancelhas do mundoQue lavam os imundospanos da vidano meio das ruasE estendem no varala nudez de suas almasDaqueles que sabem que descalçonão é só sem sapatoQue boca não é só beijoE que beijo não é só ato

  11. Borboletas brancas Da casabrancura de tigela de leiteque o gato Mandrufsorvia no canto da salaa derramar miados longos pelo corredor. Mandruvás escorriam pela paredeo langor de suas latências pré-borboletas,para desespero de Maria,que gritava e balouçava as tetas de onde vinha o leite de MandrufO coqueiro, insensível aos exageros de Maria,lançava larvas e sombras másna brancura do alpendre O avô ria escondidoum riso de vento e de gentee seus dentes eram ralos e poucos como o bigode de Mandrufe tão brancos como o leite da teta de Maria.Ria de si mesmo um riso insanoonde viviam bichanos e mandruvás.Sonhava que Maria lambia a tigelae o leite derramava lagartas na paredeenquanto o gato, tecia das folhas, redes para pousar a teta farta. Da casa, passaram-se os dias de lagarta.Os dentes do avô e os seios de Maria estão enterradosao pé do coqueiro.Mandruvás escorrem paredes brancas o tempo inteiropela boca de MandrufOs dias da casa já voaram nas asas brancas de uma borboletaO gato ainda procura uma tigela-teta para alimentarsuas sete-vidas.São lívidas as asas do sonho!

  12. Atropelei uma galinha Isso mesmo! Vinha distraída, numa estrada vicinal, quando ela voou para debaixo do carro.Acredito que foi suicídio.(se fosse galinha eu também me suicidaria). Só deu para ver um esvoaçar de asas, uma espécie de grito e mais nada. Em instantes tudo que havia sido uma galinha: penas, bico, asas...jazia estraçalhado no asfalto quente.  Fiquei triste de verdade, tivesse eu mais cuidado e a pobre, pobre não: pobrezinha. (Não existe adjetivo mais perfeito para uma galinha, ainda mais para uma galinha morta) teria escapado de morte tão inoportuna.        Mas, o que me espantou mesmo foi a indiferença do galo. Nada contra o galo! Sei tratar-se de um ser belo, imponente, eloquente. Parece até que anda de terno e gravata.Veio ao mundo para ser admirado pela sua postura e cantoria nas madrugadas.        Porém, aquele galo não se mexeu, nem olhou para a cena macabra, continuou tranquilamente, como se nada, mas nada mesmo tivesse acontecido.       As outras galinhas fizeram um certo rebuliço, uma espécie de fuxico entre elas, e ficaram a observar a companheira morta assim  meio que desconcertadas e conformadas ao mesmo tempo.      Entretanto, aquele galo era um galo-robô, programado para não sentir. Disso eu tenho absoluta certeza. Nem um último canto à sua companheira ele ensaiou. Tivesse eu mais ânimo e ele estava enrolado! Juro que preferia tê-lo atropelado.      Acontece que quem se encontrava ali estendida e decomposta era a galinha. Parecia até restos de despacho da noite anterior.  Eis uma angustiante função da galinha: Servir de oferenda  para a macumba. Alguém aí já viu galo de pescoço cortado, colocado na encruzilhada acompanhado de cachaça, flores e velas?      Dou-me conta que não existe nenhuma outra disparidade maior entre os sexos no mundo animal como  a que há entre o galo e a galinha.

  13. A galinha não vale nada. Já veio ao mundo desprezada, desvalorizada. Uma galinha é considerada um serzinho à toa. Até uma boa "Galinhada", (prato apreciadíssimo por esses lados,) tem um sentido meio pejorativo. E ainda tem mais:O galo é o promíscuo e a galinha é quem leva a fama. Mulher-galinha é um adjetivo usado para designar pessoas do sexo feminino que trocam de parceiro assim como quem troca de roupa. Injustamente usado! Deveria se dizer mulher-galo, pois, quem se deleita com uma troca impressionante de parceiras é o galo.      Só tem uma coisa  na  qual galinha é imbatível: O ovo... Eis o grande mistério da galinha!       Depois de passada a confusão retomo meu caminho ainda meio chateada com o ocorrido e penso que jamais queria ser galinha. Seria qualquer coisa: vaca, tartaruga...Até lesma eu seria. Mas... galinha é de doer!      Apesar do desprezo que se tem ,em geral, pelas galinhasdecidi que pelo menos esta galinha não será apenas uma galinha a mais. Ela merece um poema:

  14. "Voas.Em penas.Em bico.Asas em sangue.És miserávelaté na hora da morte.Fosses outro ser terias tido melhor sorte.Mas, és galinha.Foste galinhadesprevenida.Solta no tempo.No seu tempo de ser.Fosse eu mais contida.Terias uns dias a mais.Uma fração de tempo a mais.Faria diferença?Sempre faz!"

  15. Escapa-me a palavracom a qual eu revestiaas cavas do ontem.A meninaque brincava com a rosaviajou[e não me perguntem para onde foi]Escapa-me a palavrade dizer saudade e inocênciaE só digo oi.A vida vela esta ausênciade onde escorre-meo indecifrável.A oca língua da infâncianesta fuga azul e impalpávelfaz chover o céu da boca .Faz chorar o impermeável! fim

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