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OS MORTOS-VIVOS EXISTEM! O MEDO DOS MORFÉTICOS NA LITERATURA FANTÁSTICA

OS MORTOS-VIVOS EXISTEM! O MEDO DOS MORFÉTICOS NA LITERATURA FANTÁSTICA. Prof. Dr. Alexander Meireles da Silva Professor Adjunto do Departamento de Letras da UFG – Campus Catalão. OBJETIVO.

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OS MORTOS-VIVOS EXISTEM! O MEDO DOS MORFÉTICOS NA LITERATURA FANTÁSTICA

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  1. OS MORTOS-VIVOS EXISTEM! O MEDO DOS MORFÉTICOS NA LITERATURA FANTÁSTICA Prof. Dr. Alexander Meireles da Silva Professor Adjunto do Departamento de Letras da UFG – Campus Catalão

  2. OBJETIVO • A partir da abordagem do tema da abjeção e da intersticialidade, conforme propostos respectivamente por Julia Kristeva em Powersof Horror (1982) e Mary Douglas em Pureza e perigo (1991), este estudo tem como objetivo principal discutir brevemente a construção do personagem do leproso enquanto agente do medo na literatura europeia e brasileira de fins do século dezenove e início do século vinte, tomando como objetos de análise os contos “A marca da besta” (1890), de RudyardKipling, “O leproso” (1944), de Miguel Torga, “Pelo caiapó velho” (1917), de Hugo de Carvalho Ramos e “Camunhengue” (1920), de Valdomiro Silveira. • Especificamente, esta análise também problematizará como o uso do tema da lepra, por escritores brasileiros do século vinte, vinculados a corrente regionalista, dialoga com a tradição européia do gótico colonial, estabelecendo neste processo, e guardadas as devidas proporções de contexto histórico-cultural, uma leitura colonialista do sertão como lócus do insólito.

  3. Sobre escamas e profanação • A origem da palavra: “leprêã” = escamas. • A ligação deste termo médico com o universo espiritual se deu quando da passagem para o grego dos textos do Antigo Testamento por volta do século 3 a.C. Ao se realizar a tradução do hebraico “tsara’ath” (“ímpio”, “profano”) para o grego optou-se pela palavra “lepra”. • O Levítico.

  4. Abjeto e intersticial • O Levítico estabeleceu a necessidade da segregação do morfético devido não apenas a sua impureza, mas principalmente devido a transgressão cometida pelo seu corpo dentro da crença da sacralidade do corpo humano, estabelecendo assim sua condição como abjeto, ou seja tudo o que se afasta dos valores de um grupo social até o ponto da evocação da repulsa (KRISTEVA, 1982, p. 4). • Localizando em seu corpo o espaço da dessemelhança e da não-identidade, o leproso é um morto-vivo institucionalizado cujo entre-lugar se alinha também com as considerações de Mary Douglas em Pureza e perigo (1991) sobre a violação dos esquemas de categorização cultural.

  5. O medo da lepra • No caso dos portadores de morféia esta dúvida categorial ocorre por ser este individuo um representante intersticial do vivo/morto e da decomposição. • Para Noël Carroll, é esta ambiguidade nos termos de Douglas um dos fatores geradores do horror artístico explorado na literatura e no cinema, pois “o que horroriza é o que fica fora das categorias sociais e é forçosamente desconhecido” (1999, p. 54). • Na Idade Média este temor se formalizou na cerimonia do Separatio Leprosarium: “Sic mortuus mundo, vivus iternum Deo”

  6. SeparatioLeprosarium • Após o anuncio de sua morte em vida o individuo perdia sua identidade, passando a ser conhecido apenas como “o leproso”. Nesta condição ele era uma não-pessoa, desprovido, por exemplo, do direito a heranças ou de apresentar reclamações a justiça. O leproso era então conduzido até os limites da cidade e lá era informado pelo padre da série de proibições impostas a ele visando evitar a contaminação das pessoas (RICHARDS, 1995, p. 155).

  7. O Gótico Colonial • Após a Idade Média, a lepra ressurgiria em um novo espaço e época: as colônias africanas e asiáticas das ultimas décadas do século dezenove. • Dentro do contexto imperialista, a lepra foi encarada como um marco divisório entre a (civilizada) cultura europeia e as (primitivas, bárbaras e supersticiosas) culturas de países sob o julgo das potências do período como a França, a Alemanha, a Bélgica e, principalmente, a Inglaterra. • Neste cenário, a moléstia era tanto a ameaça do cruzamento da fronteira em decorrência do contato prolongado com o outro quanto à expressão da decadência do poder imperial (EDMOND, 2006, p. 221), temas que foram explorados pela vertente romanesca do gótico colonial.

  8. O Gótico Colonial • Em linhas gerais, a literatura gótica colonial pode ser dividida em duas expressões: • a primeira descreve a ameaça externa que um ou mais indivíduos representam ao status quo dentro do pais ou região colonizadora. • Já a segunda abordagem trata da experiência do colonizador ou do representante da ideologia dominante em um local considerado por este como primitivo, atrasado, supersticioso e bárbaro (SNODGRASS, 2005, p. 61).

  9. O Gótico Colonial brasileiro • No ambiente do entre-guerras de início do século XX intelectuais nacionais e estrangeiros se voltaram para a análise da sociedade brasileira e viram na constituição do povo um dos fatores que impediam o desenvolvimento nacional. • De fato, a elite brasileira com frequência enxergava o Brasil de forma semelhante a dos colonizadores europeus da época, que em outras partes do mundo viam as colônias propriamente ditas como uma área de riquezas potenciais, cuja exploração era dificultada pela presença de raças e culturas inferiores (NEEDELL, 1987, p. 50).

  10. O Gótico Colonial brasileiro • Neste cenário, a mentalidade neocolonial ou imperialista das elites fomentou uma produção literária marcada pelo preconceito em relação a uma parte do país e/ou a segmentos da população que, pelos parâmetros das grandes cidades do período como Rio de Janeiro e São Paulo, ainda pertenciam a um tempo de atraso, superstição e mesmo barbárie. • Esta visão, frequentemente alicerçada na oposição meio urbano X meio rural, fomentou no meio literário, dentre outras formas, a criação de um sertão insólito habitado por seres sobrenaturais em muito semelhantes ao encontrados na tradição gótica colonial européia.

  11. Corpus selecionado • “A marca da besta” (1890), do britânico Rudyard Kipling; • “O leproso” (1944), do português Miguel Torga; • “Pelo caiapó velho” (1917), do brasileiro Hugo de Carvalho Ramos; • “Camunhengue” (1920), do brasileiro Valdomiro Silveira

  12. Considerações finais • Ao lado de outras criaturas da literatura de horror, o morfético carrega em seu corpo movediço, incompleto, transitivo e decomposto, o signo da abjeção e da intersticialidade. Condenado a morte em vida durante a Idade Média o leproso chegou à segunda metade do século dezenove como agente da ansiedade experimentada pelo europeu em relação à integridade de sua identidade e valores. Este mesmo padrão foi observado no Brasil do início do século vinte quando escritores ligados a corrente regionalista usaram da figura do morfético para construírem um sertão insólito, que, guardadas as devidas proporções de contexto histórico-cultural, em muito se assemelhou aos cenários retratados nas narrativas do gótico colonial europeu.

  13. Referências • CARROLL, Noël. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Trad. Roberto Leal Ferreira. Campinas, SP: Papirus, 1999. (Coleção campo imagético). • DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo: ensaio sobre a noção de poluição e tabu. Trad. Sônia Pereira da Silva. Lisboa: Edições 70, 1991. • EDMOND, Rod. Leprosy and Empire: a medical and cultural history. New York: Cambridge University Press, 2006. • KIPLING, Rudyard. The mark of the beast. In: ______. Strange Tales – Rudyard Kipling. London: Wordsworth Editions, 2006, p. 3-14. (Tales of Mistery & The Supernatural). • KRISTEVA, Julia. Powers of Horror: an essay on abjection. New York: Columbia University Press, 1982. • LOVECRAFT, H. P. O horror sobrenatural em literatura. Trad. Celso M. Paciornik. São Paulo: Iluminuras, 2007. • MATTOS, Débora Michels, FORNAZARI, Sandro Kobol. A lepra no Brasil: representações e práticas de poder. Diário de Tarde, Florianópolis, n. 413, p. 45-57, 1° semestre de 2005. Disponível em <http://www.fflch.usp.br/df/cefp/Cefp6/mattosefornazari.pdf>. Acesso em 28 fev. 2013. • MONTEIRO, Yara Nogueira. Doença e estigma. Revista História, São Paulo, n. 127-128, p. 131-139, ago./dez. 1992 a jan./jul. 1993. Disponível em <http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/viewFile/18694/20757>. Acesso em 28 fev. 2013.

  14. Referências • RAMOS, Hugo de Carvalho. Pelo caiapó velho. In: DENÓFRIO, Darcy França, SILVA, Vera Maria Tietzmann. (Orgs.). Antologia do conto goiano I: dos anos dez ao sessenta. Goiânia: CEGRAF/UFG, 1992, p. 55-59. • RICHARDS, Jeffrey. Lepers. In: ______. Sex, Dissidence and Damnation: minority groups in the Middle Ages. London: Routledge, 1995, p. 150-163. • SILVEIRA, Valdomiro. Camunhengue. In: ______. Os caboclos. 4ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1975, p. 50-58. • SNODGRASS, Mary Ellen. Colonial Gothic. In: ______. SNODGRASS, Mary Ellen. Encyclopedia of Gothic Literature. New York: Facts On File, Inc., 2005, p. 61-62. • TORGA, Miguel. O leproso. In: PENTEADO, Jacob. (Org.). Obras–primas do contos de terror. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1958, p. 289-299. • WARWICK, Alexandra. Colonial Gothic. In: MULVEY-ROBERTS, Marie. The Handbook to Gothic Literature. New York: New York University Press, 1998, p. 261-262.

  15. www.ensinosuper.com

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