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A técnica de Ferenczi

A técnica de Ferenczi. Seminário. Diário Clínico. Escrito em 1932, o Diário Clínico ficou sob a tutela de M. Balint, sendo somente publicado em 1985 após a morte do autor. Contém notas e comentários de Ferenczi, escritos entre janeiro e outrubro de 1932.

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A técnica de Ferenczi

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Presentation Transcript


  1. A técnica de Ferenczi Seminário

  2. Diário Clínico • Escrito em 1932, o Diário Clínico ficou sob a tutela de M. Balint, sendo somente publicado em 1985 após a morte do autor. • Contém notas e comentários de Ferenczi, escritos entre janeiro e outrubro de 1932. • Obra vista somente pelos “iniciados” em Ferenczi • Aborda a questão da traumatogênese e reflete sobre a ação do psicanalista. • “Higiene” ou “Metapsicologia do analista”  atenção para os processos psíquicos que ocorrem no psicanalista ao longo das sessões.  • Indagação recai sobre o processo de analisar, bem como são enfrentadas as resistências e dificuldades que são impostas ao analista. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  3. Diário Clínico • Pode ser compreendido, sob uma perspectiva mais profunda como um relato de uma análise: sua própria auto-análise • Ferenczi analisa o modo como é afetado por seus analisandos durante e após as sessões  ou análise mútua, que são as associações apresentadas por Ferenczi a alguns de seus pacientes e por eles interpretados. • Diário Clinico como o testemunho de uma passagem: inclui a elaboração de restos não analisados de sua experiência de análise com Freud, a partir das exposições das próprias dificuldades encontradas por Ferenczi na condução da análise de seus pacientes • Um dos mais importantes testemunhos da história da psicanálise, da busca e da constituição, por parte de um analista, de um espaço psicanalítico autêntico. • Manifesta uma denúncia contra a prática corrente da psicanálise institucional da época. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  4. A insensibilidade do analista • Ferenczi critica a postura distante e neutra adotada pela maior parte da comunidade psicanalítica • Insensibilidade do analista compreendida como uma forma de hipocrisia, uma recusa por parte do analista, dos próprios afetos de amor e sobretudo de ódio, suscitados nas análises. • Noção de sensibilidade: oriunda do campo da estética, é usado pelo autor como a capacidade de afetar e ser afetado pelo outro e não no sentido de benevolência ou compreensão ilimitada. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  5. A insensibilidade do analista • Insensibilidade ou hipocrisia  a principal figura do álibi passível de ser empregado pelos analistas para escapar das duras conseqüências do ato analítico. • Hipocrisia  manifesta-se pelo rígido apego à técnica, regulada pelo princípio de abstinência (abondonado desde cedo por Ferenczi) e pelo rígido apego à teoria ou ao intelectualismo. • 12/04/1932: Ferenczi faz uma auto crítica às suas limitações, questiona o modo pelo qual era analisado por Freud e sobre o estilo de escuta adotado pela comunidade psicanalítica. • “Em vez de sentir com o coração, sinto com a cabeça. A cabeça e o pensamento ocupam o lugar da libido”. (Diário Clínico, 1932 p.23). Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  6. A libido do analista • A libido do analista tem um lugar crucial na promoção do acontecimento clínico, e o trabalho de análise só pode ocorrer se promover um autêntico encontro de afetos. • O encontro de afetos propiciaria o “diálogo de inconscientes”, ao qual o psicanalista deveria comparecer de corpo presente. • Ferenczi propõe analisar “com o coração” – a libido - e não “com a cabeça” – utilizando a razão teórica. • Questionamento do saber do psicanalista: é no sentido de um questionamento deste saber que se pode afirmar que, para Ferenczi, a libido do psicanalista está efetivamente implicada no processo analítico, sem álibis. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  7. A contratransferência real • A problemática da libido vai ao encontro com a questão da transferência e contratransferência. • Freud: Uma análise só avança até onde pôde ir a análise do psicanalista  tal consideração permitiu Ferenczi conceber a mutualidade da relação analista e paciente. • Contratransferência: inicialmente vista como uma falha, aludindo a questão dos limites de e para uma análise; e posteriormente compreendida como uma “bússola norteadora” do trabalho analítico. • A transferência para Ferenczi é, em primeiro lugar, produzida no encontro entre analista e analisando. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  8. A contratransferência real Analista está diretamente implicado na maior parte das manifestações transferenciais dos seus analisandos  Isso diz respeito à experiência de análise de Ferenczi com Freud, da qual Ferenczi se queixava de que Freud produzira uma intensa idealização, ao impossibilitar o trabalho de luto por parte do analisando, pela desconsideração da transferência negativa (de Ferenczi). A contratransferência não é vista como a mera reação afetiva no analista neutro, de manifestações afetivas do paciente como guia para interpretação, nem como reação humana indesejada que comprometeria o bom curso da análise. Para Ferenczi, a contratransferência abrangeria tanto a expressão dos afetos advindos dos próprios investimentos transferenciais do analista quanto as resistências e pontos cegos nele suscitados pelo impacto dos afetos direcionados a ele. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  9. Concepções gerais • O Diário Clínico pode ser considerado como o adendo de Ferenczi às “Observações sobre o amor transferencial” de Freud, sob o enfoque da metapsicologia do analista – uma espécie de observações sobre o amor e o ódio contratransferenciais. • Trilha aberta por Ferenczi para a compreensão da experiência transferencial  Winnicott: “espaço intermediário” que possibilita o encontro afetivo entre parceiros de análise, sendo apenas o encontro autêntico de afetos que propiciaria a criação de novos sentidos, sobretudo para o psiquismo do analisando, paralisado pelo sintoma e pela repetição. • Importância para a análise do analista, tida por Ferenczi como a segunda regra fundamental da psicanálise (a primeira é a associação-livre)  “O melhor analista é um paciente curado”. • Análise do analista  tema aparece em 1928 “A elasticidade da técnica”, que é o marco no campo psicanalítico da problematização estética da clínica. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  10. Concepçõesgerais • A partir de então, Ferenczi não mais se perguntava o que fazer na clínica, mas sim como fazer no aqui e agora das sessões! • Em síntese, o abandono das técnicas rumo a uma estética da clínica coincide com o abandono da busca da definição de um “lugar” que pudesse ser ocupado pelo psicanalista junto ao psiquismo do analisando. • Ferenczi vai abandonando a concepção de uma tópica que seria ocupada pelo analista como objeto de investimento do analisando na transferência, em direção a uma tentativa de definição do trabalho do analista segundo uma concepção econômica, referente ao encontro afetivo que acontece na análise.  • O que seria, então, uma psicanálise sem álibis e sem tantos semblantes?  A figura do analista como uma criança, órfão de certezas e garantias prévias – e capaz de brincar, criar, entristecer-se e rir junto daquele de quem se dispôs a tratar. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  11. Concepçõesgerais Somente após ter sido analisado por Freud, que era tido por ele como seu mestre (ele o chamava de professor), Ferenczi sentiu a real necessidade de modificar a técnica de atendimento. Ferenczi era tido como uma pessoa sensível, voltada para o humano, o social. Na análise com Freud ressentiu-se com a falta de afeição, de acolhimento, por parte do analista. Não se sentiu confortável. Baseado nessa experiência começou a desenvolver uma técnica terapêutica que foi chamada de técnica ativa. Dedicou-se a “pacientes difíceis”, sendo ele mesmo considerado assim, por sua história de vida e personalidade. Análise do jogo e destaque à linguagem da ternura, permitiram uma ampliação dos limites do setting e a legitimação do humor entre analista e analisando como modalidade privilegiada de produção do saber em análise. Dimensão estética da clínica e a valorização do espaço para a criação nas análises. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  12. Transgressões aos conselhos técnicos de FREUD • Prolongamento do tempo das sessões e oferta de mais de uma sessão no mesmo dia para analisandos em crise • Sessões fora do consultório, sessões sem divã, obedecendo os impulsos dos analisandos de deambularem ou de olhar o analista nos olhos • Períodos sem “contrapartida financeira”. • Para Ferenczi, o saber excessivo do analista é traumático para o analisando (relação médico – paciente se assemelhando à do professor – aluno) • Técnica clássica (abstinência/frustração e interpretação) gera resistências objetivas difíceis de serem transpostas: o paciente vê “a reserva severa e fria do analista como a continuação da luta infantil contra a autoridade dos adultos” • Ferenczi busca superar resistências até então insuperáveis Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  13. Técnica Ativa • Concebida a partir da estagnação do processo de associação livre. O objetivo é o de superar a dificuldade causada pela estagnação da análise, da não apresentação de material novo pelo paciente. • Para Ferenczi, o prazer experimentado pelo analisando durante as sessões, seria a causa da estagnação. Assim, provocando tensão, haveria um surgimento de novo material associativo. • “Atividade” se aplica mais ao paciente do que ao analista. A proposta é exigir que o paciente abandone o papel passivo que lhe cabe na técnica clássica. Consiste basicamente em impor a realização de uma tarefa determinada pelo analista, ou impor alguma proibição. Ex: um paciente fóbico ser obrigado a enfrentar a situação provocadora de sua fobia. • Princípio: “Quando estimulamos o que está inibido e inibimos o que não o está, esperamos somente provocar uma nova distribuição de energia psíquica ao paciente, suscetível de fazer emergir o material recalcado.” Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  14. Técnica Ativa • Ferenczi chamava de técnica ativa a possibilidade do paciente fazer ou deixar de fazer alguma coisa, ou seja, o paciente deveria ser ativo. A atividade do analista se restringiria a sugerir ao paciente o que ele deveria fazer e então encorajá-lo a fazer tal coisa. • Essa forma de intervenção do analista, a princípio seria como uma ordem, regra, proibição ou interdição. Deveria ser transmitida ao paciente de forma enérgica, embora em nota de rodapé em seu artigo “Psychoanalysis of Sexual Habits” (1925), sugeria que a intervenção deveria ser feita sob a forma de um conselho ou sugestão amigável. • Identificando a importância dos atos sintomáticos, entendeu que a aparição de um sintoma transitório, uma vez adequadamente compreendido e interpretado, pode levar a progressos terapêuticos importantes. Portanto, seria dever do analista facilitar seu aparecimento. • Além dos conteúdos verbais da associação livre, o analista deveria levar em consideração o significado dos elementos formais (comportamento) na situação analítica, a importância da permeabilidade das associações e da interação entre a transferência do paciente e a técnica do analista, ou seja, sua contratransferência. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  15. Técnica Ativa • Ferenczi questiona 2 aspectos da interpretação: seu papel e sua oportunidade. • A interpretação deveria ser usada de maneira econômica e somente após uma avaliação cuidadosa de sua oportunidade, pois interrompe a associação livre. • Questiona o narcisismo do analista, como fonte abundante de erros. • Atribui importância à dinâmica psíquica do analista, diante da transferência e das resistências do paciente. • Ferenczi esperava que uma intervenção feliz do analista pudesse produzir um aumento considerável de tensão no paciente e que isso, pudesse produzir dois resultados: • Um retorno à consciência de um impulso ou desejo instintual até então reprimido, mudando um sintoma desagradável, desse modo reforçando e ampliando o poder do ego do paciente • Afastando as resistências, faria recomeçar o fluxo das associações estagnadas ou esgotadas do paciente. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  16. Consequências Negativas da Técnica Ativa • A técnica ativa não deu a Ferenczi o que procurava. • Mas pôde conceber a importância do agressor, que desempenha um papel tão significativo na teoria do trauma. • Seu caráter autoritário não provocava sentimentos hostis no paciente, mas sim, remetia-o à cena traumática, a uma nova submissão ao agressor. • O material pesquisado apareceria de qualquer forma na análise, mais cedo ou mais tarde. Ao invés de resolver a transferência, o paciente identificava-se com o mesmo, submetendo-se docilmente ao desprazer que lhe era proposto. O conforto combatido pela técnica ativa permanecia. • Ferenczi compreende o processo analítico como o resultado da dinâmica estabelecida por 2 aparelhos psíquicos – do analista e do analisando. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  17. Consequências Negativas da Técnica Ativa • Se a intervenção ativa viesse a acontecer, conforme Ferenczi recomendava, perto do término do tratamento, o retorno conseguido por ela tinha quantidade suficiente de força, em muitos casos, para durar até o término e assim ajudava bastante a terminar o tratamento com êxito. • Em inúmeros casos, essa quantidade de força sumia e os pacientes recaíam. Ou não era possível terminar o tratamento na data prevista, ou então, os pacientes retornavam alguns meses depois em péssimo estado. • Freud previu essa possibilidade e entendeu, após as experiências de Ferenczi, que o sucesso era ilusório e imprevisível. Abandonou então, a ideia da atividade. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  18. Modificação da Técnica Ativa • “Evitar” a transferência negativa teria um efeito prejudicial sobre a atitude afetuosa, a transferência positiva não encontra eco nas experiências clínicas de Ferenczi e para sua surpresa, a esperada manifestação hostil dos analisandos não acontecia, evidenciando que vivenciar os afetos negativos merecia outra abordagem clínica, mais delicada que a técnica ativa, de forma a incidir sobre a compulsão à repetição e a pulsão de morte, no sentido de aliviar seus analisandos do julgamento de um superego efetivamente tirânico. • Superego: uma análise não pode nem deve impedir a existência de modelos positivos ou negativos pré-conscientes, mas o sujeito não terá mais que obedecer como um escravo a esse superego pré-consciente, como antes obedecia à imago parental inconsciente. • A atividade é considerada uma séria perturbação para a evolução da transferência do paciente. Não deve ser aplicada antes do estabelecimento sólido de uma relação transferencial. • Em alguns casos, ao invés de aumentar a pressão sobre o paciente, a melhor técnica era sugerir uma redução, um relaxamento, principalmente dos músculos do esfíncter supercontrolados pela ansiedade. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  19. A elasticidade da técnica • Em 1928 Ferenczi questiona o conforto do analista. • “O tratamento psicanalítico não pode ser confortável nem para o analista, nem para o paciente.” O conforto é um sinal de alerta. • As regras técnicas estão longe de garantir um bom desenrolar do tratamento, e podem ainda, funcionar como defesa do analista. • Ocupar a cadeira do analista poderia ser sintoma. • A salvaguarda do processo analítico seria possível através de uma técnica que comporte conceitos de enquadre, neutralidade, atenção flutuante, determinação de tempo e espaço, mas sobretudo pela dialética psicanalítica. • É o caráter constante desta dialética que torna a posição do analista forçosamente desconfortável. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  20. A elasticidade da técnica • A hipocrisia do analista consistia no uso de dispositivos técnicos (neutralidade e setting), funcionando como resistências à psicanálise. • Sinceridade absoluta: em relação a si próprio e ao paciente. • A elasticidade é, pois, a assimilação interior dos fundamentos teóricos da prática clínica, que só pode existir por intermédio da análise pessoal dos analistas. • Conceito de Tato (1928); capacidade do analista de “sentir com” sem “ser como”; capacidade de se representar o vivido do paciente. • Noções de elasticidade, relaxamento, liberdade e amistosa benevolência irão se impor na prática clínica ferencziana. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  21. A elasticidade da técnica • Elasticidade da técnica pretende resgatar o princípio de liberdade como contrapartida necessária ao princípio de abstinência (frustração) freudiano. • Problemática do final da análise: como e também até que limite suportar uma análise na qual a transferência negativa pode realmente ter expressão. Implica paciência e tolerância do analista, atitude amistosamente benevolente, não servindo de inspiração para uma técnica masoquista, em oposição ao gozo sadomasoquista. • O analista, para sustentar seu papel de João-Teimoso, oscilando entre o lugar da autoridade que frustra e o lugar de acolhimento do jogo infantil e do negativo, teria que dispor de condições metapsicológicas próprias que, por sua vez, dependeriam do sucesso de sua própria análise. Um olhar radical sobre o analista, suas resistências e sua metapsicologia. • É pela insistência em explorar fronteiras e limites que torna relevante o resgate dos questionamentos ferenczianos, que se fazem ainda mais atuais quando os desafios da experiência psicanalítica contemporânea nos aproximam da urgência e do desespero próprios aos chamados pacientes difíceis com os quais lidava. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  22. A elasticidade da técnica • João-Teimoso: A análise agora deveria oferecer a liberdade necessária para que o analisando pudesse expressar verdadeiramente, com convicção, suas vivências afetivas de amor e de ódio, e caberia ao analista o jogo de cintura para tornar a técnica elástica o bastante para isso. • Compulsão à repetição é definitivamente assimilada e acolhida no processo de cura. Positiva a repetição na transferência como um valor analítico em si, ao invés de colocá-la apenas como uma modalidade de resistência e, aponta para uma clínica psicanalítica que não deixa de considerar o ponto de vista econômico, como Freud viria a reivindicar no final do seu percurso teórico-clínico, o que é ressaltado justamente em “Análise terminável e interminável”. • Terapeuta como João-Teimoso a quem o paciente exercita seus afetos de desprazer, encorajando-o, certo de que colherá mais cedo ou mais tarde a recompensa bem merecida de sua paciência, sob forma de uma nascente transferência positiva. • “Agora que o amo, posso renunciar a você.” Frase dita por uma analisanda de Ferenczi Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  23. Princípio do relaxamento e neocartase • Neocartase: trata-se de construir a cena do trauma, que perdeu sua voz e tornou-se pura sensação corporal. Cabe ao analista emprestar sua própria fantasia e construir uma versão para o que não tem memória, nem palavra. Lançar mão do seu lugar de “objeto possibilitador de introjeção”. • O analista coloca sua própria fantasia à disposição do paciente que tem uma lacuna em sua história. • Ferenczi retoma a questão da transferência materna em oposição à transferência paterna de Freud. O acolhimento, ao invés da autoridade. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  24. Princípio de Laissez-faire Princípio da abstinência para Freud A situação analítica deveria se processar em um nível de frustração (tensão ou angústia), visando que o trabalho associativo do analisando não cessasse em consequência das satisfações encontradas pela demanda amorosa advindas na relação transferencial. Princípio de Laissez-faire, ou princípio da realização ou de liberdade para Ferenczi – resgate da situação de “relaxamento” e mesmo da satisfação prazerosa propiciada pela situação analítica. Os 2 princípios encontram-se presentes na regra da associação livre: “Um obriga o paciente a confessar verdades desagradáveis, ao passo que o outro autoriza-o a uma liberdade na fala e na expressão de sentimentos de que, aliás, não se dispõe na vida corrente” (Ferenczi) Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  25. Benevolência materna Resgate da afetividade na relação analista-analisando Ferenczi aponta o percurso da psicanálise como um crescente distanciamento afetivo (da relação intensamente emocional de tipo hipnótico-sugestivo converte-se numa espécie de experiência infinita de associações, portanto um processo essencialmente intelectual) Função analítica se aproxima de um acolhimento materno Analisandos que foram rejeitados (mal acolhidos) pelos pais (especialmente a mãe) quando crianças tem sua “vontade de viver quebrada”. Para estes, o procedimento psicanalítico clássico se mostra insuportável Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  26. Benevolência materna O princípio da laissez-faire possibilita desfrutar pela primeira vez da “irresponsabilidade da infância”. As “demonstrações de ternura” permitem introduzir, na análise, a positividade em relação à vida “O projeto clínico ferencziano consistiria então em pensar uma psicanálise que resgatasse para os analisandos a possibilidade de dar sentido à vida recorrendo à faculdade introjetiva (sublimatória, na terminologia freudiana) responsável pela permanente constituição de si e do mundo circundante, que neles se achava de algum modo bloqueada.” (Kupermann) p.287 Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  27. A transferência e o lugar do analista • A transferência é pensada a partir do conceito de introjeção, articulado com a constituição da subjetividade, ou seja, da noção do simbólico. Ela deve ser o suporte de introjeção que não foi realizado no trauma. • O analista é, portanto, o suporte das representações (construções imaginárias) a que visa a introjeção do analisando. • A transferência negativa, cujo objeto é o analista, faz deste o suporte da função simbólica que falta à introjeção interrompida no trauma. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  28. A transferência e o lugar do analista • Toda transferência no cenário do tratamento está voltada ou para a mãe indulgente ou para o pai severo. Para Ferenczi, isto significava que todo paciente é uma espécie de criança e, portanto, seu desejo é ser tratado como tal pelo analista. • Todo analista deve saber como graduar sua austeridade, indulgência ou simpatia, conforme o caso. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  29. Forma Terapêutica de Lidar com a Contratransferência • O analista tentaria manter um meio termo entre a reação muito rápida às emoções do paciente e o controle de suas próprias reações emocionais de maneira muito cautelosa e rígida. • O analista deveria deixar-se levar, seguindo as associações e fantasias do paciente (associação livre). A qualquer sinal de seu pré-consciente, o analista deveria interromper-se e submeter tanto o material produzido pelo paciente, quanto suas próprias reações a esse material, a um exame minucioso, uma espécie de teste de realidade, a fim de identificar qual interpretação deveria ser dada nesse ponto. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  30. A análise mútua • É uma análise onde a percepção que o paciente tem dos sentimentos subjetivos do analista seria por este levada em consideração. • Foi mencionada apenas em seu diário clínico, por isso trouxe tantos questionamentos éticos. • Ferenczi parecia acreditar resolver o problema do aspecto artificial do comportamento do analista através da imposição de uma total sinceridade, mas surgiriam outros problemas: sedução pela interpretação, resistência diante do seu próprio processo analítico. • Pode ser interpretada como uma tentativa de reparação daquilo que não lhe foi possível com Freud. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  31. Tarefa Dupla • O analista deve ouvir tudo com simpatia e aceitar o que o paciente lhe oferece, de modo a ser capaz de deduzir ou reconstruir o inconsciente do paciente graças ao material verbal produzido e ao comportamento atual do paciente. • Por outro lado, o analista deve ter pleno controle de sua contratransferência. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  32. Análise pelo jogo “É verdadeiramente impossível [ao analisando] levar a sério seus movimentos internos quando me sabe tranquilamente sendo atrás dele, fumando meu cigarro e reagindo no máximo, indiferente e frio, com a pergunta estereotipada: O que lhe ocorre a esse respeito?” (Ferenczi, 1931, in Kupermann, p.289) “(…) um paciente na plenitude da vida decide-se, após ter superado fortes resistências, mormente uma intensa desconfiança, a fazer reviver os acontecimentos de sua infância. Eu já sei, graças à elucidação analítica do seu passado, que nas cenas revividas ele me identifica com seu avô. De repente, a meio de seu relato, passa-me um braço em redor do pescoço e murmura-me ao ouvido: “Sabe, vovô, receio que vou ter um bebê…” Tive então a feliz idéia, parece-me, de nada dizer de imediato sobre a transferência ou algum coisa no gênero, mas de lhe devolver a pergunta no mesmo tom sussurrado: Ah, sim, por que é que você pensa isso?” (idem) Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  33. Análise pelo jogo Valoriza a força transformadora e o caráter criativo da palavra em análise O analista deixa de interpretar a transferência, participando do “jogo” proposto A linguagem interpretativa tende a doar “de fora” o sentido da atuação, a linguagem da ternura visa construir com o analistando A “atuação” do analista ganha um caráter positivo, sendo convocado a atuar na cena produzida Dialoga com a “criança” em análise numa linguagem passível de ser por ela assimilada e, consequentemente, de produzir um saber a ela adequado. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  34. Análise pelo jogo “O analista deixa de ocupar, na cena analítica, o lugar privilegiado de guardião do princípio de realidade, passando a vivenciar junto ao analisando o estranhamento provocado pela experiência de análise.” (Koupermann p.306) “Produz uma certa mise en scène capaz de afetar o sujeito na sua economia pulsional, até mesmo para permitir sua entrada no registro do verbo” (Birman, in Kupermann, p. 291) Traz a dimensão positiva da compulsão à repetição: tentativa do aparelho psíquico de introjetar aquilo que é até então experimentado como absolutamente estranho e indizível. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  35. Análise pelo jogo A elaboração e repetição estão intimamente vinculadas, tendo mesmo um privilégio sobre o recordar (já que o acontecimento traumático não pôde ganhar representações que teriam sido recalcadas e que pudessem assim ser relembradas) A frieza ou distanciamento do analista leva a produzir semelhança entre a situação analítica e a situação infantil traumática, incitando à repetição Valendo-se da linguagem da ternura em análise, gera-se o contraste entre a situação analítica e a situação infantil, favorece a rememoração “O paciente sem consciência é afetivamente, em seu transe, como uma criança que não é mais sensível ao raciocínio mas, no máximo, à benevolência materna”. A interpretação ou as considerações que apelem à razão – ou seja, que falem dá criança, e não com a criança – são inócuas nessas análises. Psicoterapia Psicanalítica Breve – Sedes Sapientiae

  36. Reflexão “Os pais e os adultos deveriam aprender a reconhecer, assim como nós, analistas, por trás do amor de transferência, submissão ou adoração de nossos filhos, pacientes, alunos, o desejo nostálgico de libertação desse amor opressivo. Se ajudarmos a criança, o paciente ou o aluno a abandonar essa identificação e a defender-se dessa transferência tirânica, pode-se dizer que fomos bem sucedidos em promover o acesso da personalidade a um nível mais elevado.” Ferenczi, 1933

  37. Referências • Pinheiro, Teresa. Ferenczi – do grito à Palavra; Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998. • Balint, M. Experiências Técnicas de Sandor Ferenczi. In Técnicas Psicanalíticas Freudianas e Neorofreudianas, Imago. • Kupermann, Daniel. Ousar Rir, criação e psicanálise; Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003. • Kupermann, Daniel. Presença Sensível – cuidado e criação na clínica psicanalítica; Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2008. • Grupo de Trabalho: • Mara, Mª Carolina, Mariângela, Marcia e Marcos

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