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Caso Clínico Ingestão de Corrosivos. Elaine Cristina Rey Moura Orientadora:Elisa de Carvalho Escola Superior em Ciências da Saúde Internato em Pediatria – HRAS/SES-DF. ANAMNESE. Data da História Clínica : - 24/11/06 – 11:45h Identificação :
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Caso Clínico Ingestão de Corrosivos Elaine Cristina Rey Moura Orientadora:Elisa de Carvalho Escola Superior em Ciências da Saúde Internato em Pediatria – HRAS/SES-DF
ANAMNESE • Data da História Clínica: - 24/11/06 – 11:45h • Identificação: - V.S.R.L., 1 ano e 4 meses, natural de Taguatinga- DF, procedente e residente no Recanto das Emas • Informante: - Mãe – 34 anos, boa informante
ANAMNESE • Queixa Principal: - “ meu filho bebeu soda há 1 mês” • História da Doença Atual: - Há cerca de 1 mês, a criança ingeriu soda cáustica acidentalmente (usada para fabricar sabão, pela avó) em Buriti Bravo-MA. O produto encontrava-se no recipiente original, em pequena quantidade, diluído em água. O recipiente estava tampado em altura acessível à criança. - A tia da criança surpreendeu-a logo após a ingestão. A mesma encontrava-se chorosa, com sialorréia, edema labial, levando as mãos à boca. - Mãe ofereceu água para a criança no momento do acidente, mas nega ingesta.
ANAMNESE • História da Doença Atual: - Família procurou o Serviço de Emergência do Hospital Municipal local. Foi submetida à lavagem gástrica imediatamente. Criança evoluiu com cansaço, taquipnéia e “chiado no peito” após o procedimento. Foi, então, encaminhada para o Hospital do Piauí por falta de recursos (sic). - Paciente deu entrada no Hospital do Piauí no mesmo dia, no período noturno. Foram prescritos Predsim® e Dalsy®. A criança recebeu alta com dieta oral livre. - Diante da persistência do quadro de cansaço, choro intenso e taquipnéia a mãe retorna para o Hospital do Piauí, onde insiste em permanecer em observação. Refere ingesta apenas de água e água de côco. Foram realizados radiografia de tórax, hemograma completo e antibioticoterapia com ampicilina. Recebe alta após 3 dias de internação, com orientação de retorno em 30 dias para a realização de EDA e com dieta oral livre.
ANAMNESE • História da Doença Atual: - Após 1 semana, apresentou aumento das lesões orais, febre (40ºC), regurgitação e vômitos esporádicos, com muco. Família procurou novamente o Hospital Municipal do Maranhão, onde a criança foi internada. Após 4 dias com antibioticoterapia, recebe alta com prescrição de antitérmicos. - Uma semana depois, com persistência do quadro febril (38ºC), regurgitação e vômitos mucóides a família procura o HRAS, onde a criança foi, novamente, internada. Solicitada EDA e transferida para o HBDF para a realização do exame.
ANAMNESE • Revisão de Sistemas: - Sono preservado. Criança em dieta zero. Urina de aspecto normal e última evacuação há 2 dias. • Antecedentes Fisiológicos: - Gestação: GII PI CI A0 - 1ª gestação: Roprema (oligohidrâmnio?) - Pré-natal – início 2º trim, 6 consultas - Sorologias negativas (sic) – Mãe sem o Cartão da Gestante - Parto: normal, a termo (IG: 38s 1d), 2790g, 48cm, PC: 34cm, Apgar: 8/9 - Cartão da Criança: necessitou de estímulo tátil para chorar e de O2 inalatório.
ANAMNESE • Antecedentes Fisiológicos: - Vacinação: completa para a idade - Alimentação: LME até 4 meses. Atualmente cardápio familiar. • Antecedentes Patológicos: - Nega patologias comuns da infância; - Nega internações prévias; - Nega cirurgias; - Nega tranfusões; - Nega alergias; - Nega traumas anteriores.
ANAMNESE • Antecedentes Familiares: - Mãe, 34 anos – asma - Pai, 26 anos – sadio - Irmão, 13 anos – sadio - Avô materno, 67 anos – cardiopata - Nega outras patologias comuns na família.
ANAMNESE • Antecedentes sócio-econômicos: - Reside em zona urbana: casa de alvenaria com 5 cômodos e 4 pessoas, água encanada, luz elétrica, fossa asséptica. - Aves (galinhas) em peridomicílio; - Pai, 1º grau completo, pedreiro, tabagista há 20 anos – 1 a 2 cart./dia - Mãe, 1º grau completo, do lar
EXAME FÍSICO - BEG, chorando durante o exame, hidratado, normocorado, acianótico, anictérico, afebril ao toque, eupnéico. - Não observadas lesões em mucosa oral; - AR: MVF presente bilateralmente, presença de roncos de transmissão em dorso; - AC: RCR 2T BNF sem sopros; - ABD: plano, RHA presentes, normotenso, sem massas palpáveis e/ou VMG; - ext: bem perfundidase sem edemas.
EXAMES LABORATORIAIS Hipocromia + Anisocitose + Microcitose +
RESUMO INGESTÃO DE CORROSIVOS “CHIADO NO PEITO” TAQUIPNÉIA CANSAÇO VÔMITOS SIALORRÉIA LESÕES ORAIS ESOFAGITE? FÍSTULA TRAQUEOESOFÁGICA?
DISCUSSÃO INGESTÃO DE AGENTES CORROSIVOS ÁLCALIS ÁCIDOS
INGESTÃO DE ÁCIDOS • Responsáveis por 10 a 15% ingestão de agentes químicos; • Gosto amargo e dor imediata expelidas rapidamente • FISIOPATOLOGIA: NECROSE POR COAGULAÇÃO FORMAÇÃO DE “CAPA PROTETORA” LIMITA DIFUSÃO PARA CAMADAS PROFUNDAS
INGESTÃO DE ÁCIDOS • FISIOPATOLOGIA: - Esôfago acometido com menor freqüência (trânsito rápido); - Estômago: Contato ácido na mucosa gástrica Piloroespasmo Retenção da substância ácida – Lesão gástrica
INGESTÃO DE ÁLCALIS • Causas: - Acidental (menores de 5 anos); - Tentativa de suicídio (entre 20 e 30 anos). - Maus tratos na infância (menor freqüência). • Fatores Agravantes: - Facilidade de aquisição de produtos químicos; - Baixo preço; - Falta de embalagens adequadas; - Falta de informações sobre as conseqüências da ingestão; - Cuidados inadequados com os produtos de limpeza.
INGESTÃO DE ÁLCALIS • Fisiopatologia: - Esôfago; - Necrose por liquefação;
INGESTÃO DE ÁLCALIS FASE AGUDA: Evolução INFLAMAÇÃO POSSIBILIDADE DE INVASÃO BACTERIANA (24 A 48H) AGRAVAMENTO DO QUADRO NECROSE CELULAR SAPONIFICAÇÃO DE GORDURAS DESNATURAÇÃO DE PROTEÍNAS HEMORRAGIA E TROMBOSE PROGRESSÃO LESÃO CAMADAS PROFUNDAS (2 A 3 DIAS)
INGESTÃO DE ÁLCALIS FASE AGUDA: Evolução DESPRENDIMENTO TECIDO NECROSADO DIMINUIÇÃO HIPEREMIA E EDEMA NEOVASCULARIZAÇÃO (4 A 7 DIAS) TECIDO DE GRANULAÇÃO PROLIFERAÇÃO DE FIBROBLASTOS DEPOSIÇÃO COLÁGENO ESTENOSES CICATRICIAIS (15 DIAS)
INGESTÃO DE ÁLCALIS • Localização, gravidade e extensão das lesões: - Tipo de substância ingerida - Estado Físico - Concentração e pH - Quantidade - Tempo de exposição. ÁLCALIS ÁCIDOS • - FORMA SÓLIDA: - Lesões em orofaringe (expelidas); • - Menor percentual lesões esofágicas graves (proximais e lineares). • FORMA LÍQUIDA: - Deglutidas em maior quantidade; • - Lesões extensas de esôfago (difusas, circunferenciais); • - Esôfago, estômago e duodeno. pH 12,5 – Ulcerações esofágicas independentemente da concentração
INGESTÃO DE ÁLCALIS • Quadro Clínico: - FASE AGUDA; - FASE DE CURA APARENTE; - FASE CRÔNICA.
INGESTÃO DE ÁLCALIS • Lesões orofaríngeas; • Esofagite (dor retroesternal ou epigástrica, disfagia, odinofagia, recusa alimentar). • Exame Físico: - sialorréia • - edema e ulceração mucosa oral • - Acometimento transmural esôfago: febre, taquicardia, choque • Quadro Clínico: - FASE AGUDA (7 a 10 dias): - Início logo após a ingestão; - Sinais e sintomas relacionados à inflamação. - Trato Digestório - Trato Respiratório • Aspiração da substância • Desconforto respiratório; • Chiados; • Tosse; • Estridor; • Rouquidão; • Dispnéia; • Afonia.
INGESTÃO DE ÁLCALIS • Quadro Clínico: FASE DE CURA APARENTE (3 a 8 semanas): - Início:após desprendimento tecido necrosado; - Ausência de sinais/sintomas; - Acompanhamento clínico e endoscópico.
INGESTÃO DE ÁLCALIS • Quadro Clínico: FASE CRÔNICA (Variável): - Manifestações resultam das seqüelas (estenoses cicatriciais); • Regurgitação; • Sialorréia; • Perda de peso; • Plenitude pós-prandial; • Pirose; • Epigastralgia; • Disfagia.
RESUMO DISFAGIA INFLAMATÓRIA? CICATRICIAL? LESÃO POR IMPACTAÇÃO DE ALIMENTOS?
INGESTÃO DE ÁLCALIS • Complicações: - Avaliação gravidade lesão: - Esofagite grau I - Esogafite grau II - Esofagite grau III • Camada mucosa; • Evolução satisfatória. • Camadas mucosa, submucosa e muscular; • Possível evolução para estenose esofágica. • Todas as camadas e tecidos periesofágicos (pleura e mediastino); • Possível evolução para estenose esofágica.
INGESTÃO DE ÁLCALIS • Tipo de Lesão: - Lineares – seqüelas raras - Circunferenciais e profundas (freqüentes) – Estenose esofágica.
ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA • 20/11/06: • Presença de estenose em esôfago superior, com mucosa hiperemiada e lesão ulcerada e friabilidade ao toque do aparelho, não sendo possível a passagem do mesmo. Foi passada sonda naso-enteral, que penetra no esôfago, mas não progride, sugerindogrande área de estenose. • Conclusão: Estenose cáustica de esôfago superior.
INGESTÃO DE ÁLCALIS • Estenose Esofágica: - Evidente: 21º dia pós-ingestão - Instalação completa: 4 a 6 sem - Manifestações clínicas: 3 a 6 sem
ESTENOSE ESOFÁGICA • Diagnóstico: - FASE AGUDA: - Avaliação clínica; - Exames laboratoriais (análise estado geral e complicações); Lesões orais • Hemograma completo; • Eletrólitos; • Gasometria; • Rx tórax e abdome; • Endoscopia Digestiva Alta.
ESTENOSE ESOFÁGICA • ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA: - Orienta terapêutica e prognóstico; - Avalia localização, extensão e profundidade lesão; - Aspiração líquido de estase gástrico; MELHOR MOMENTO PARA REALIZAÇÃO: ENTRE 12 E 48H APÓS A INGESTÃO - Após 12 a 24h as ulcerações e a mucosa tornam-se esbranquiçadas (melhor visualização).
ESTENOSE ESOFÁGICA • ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA: - Exames precoces (4 a 6h): - Subestimar o verdadeiro grau de lesão tecidual; - Passagem do endoscópio Vômito Agravamento lesão esofágica - Entre 4º e 15º dia: - Desprendimento do tecido necrosado e instalação incompleta da fibrose Risco de perfuração esofágica
ESTENOSE ESOFÁGICA • ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA: - Contra-indicações: Insuficiência respiratória, instabilidade hemodinâmica, choque, sinais de perfuração (mediastinite, peritonite ou pneumoperitôneo) • SERIOGRAFIA DE ESÔFAGO, ESTÔMAGO E DUODENO (SEED): - Não indicada na fase aguda Vômitos e Dificuldade de deglutição
ESTENOSE ESOFÁGICA - FASE CRÔNICA: - Detecção de seqüelas cicatriciais; - SEED; - EDA. TERAPÊUTICA: - 1ª) DILATAÇÃO ENDOSCÓPICA - 2ª) CORREÇÃO CIRÚRGICA.
ESTENOSE ESOFÁGICA • TRATAMENTO: - FASE AGUDA: 1º)Manutenção das funções vitais: - Permeabilidade das vias aéreas; - Equilíbrio hidreletrolítico; - Estabilidade hemodinâmica; - Analgesia; - Higiene da cavidade oral, queimaduras periorais, pele e região ocular com água comum.
ESTENOSE ESOFÁGICA • TRATAMENTO: - FASE AGUDA: 2º) Controle da inflamação, diminuição do edema, manutenção do calibre do órgão acometido e profilaxia das complicações (estenose/infecções). PACIENTE ASSINTOMÁTICO: Observação por 4 a 6h ALTA PACIENTE COM LESÃO ESOFÁGICA GRAU I: Observação por 24h Ingestão oral adequada ALTA
ESTENOSE ESOFÁGICA • TRATAMENTO: - FASE AGUDA: • PACIENTE COM LESÕES ESOFÁGICAS GRAUS II E III: • Internação; • Lavagem gástrica (só para fenóis); • Manutenção do estado nutricional (nutrição parenteral ou enteral); • Uso de SNG (impedir traumas pelos alimentos, evitar retenção de partículas e impedir oclusão total); • Inibidores da secreção ácida ( Bloqueadores receptores H2 histamina ou inibidores de bomba de prótons);
ESTENOSE ESOFÁGICA • TRATAMENTO: - FASE AGUDA: - Refluxo: - Perpetuação da lesão; - probabilidade de estenoses, dismotilidade esofágica e hérnia hiatal. - Antibióticos: - Lesões graus II e III; - edema e necrose invasão bacteriana; - Amplo espectro: ampicilina, eritromicina ou cefalosporina primeira geração.
ESTENOSE ESOFÁGICA • TRATAMENTO: - FASE AGUDA: - Esteróides: - Pacientes com comprometimento de vias aéreas. - Heparina: - previne trombose venosa e estenose em animais. - Próteses esofágicas (stents): - prevenção ou tratamento de estenoses; - agravamento RGE, dismotilidade esofágica, aspirações e hemorragias; - usados em pesquisas.
ESTENOSE ESOFÁGICA • TRATAMENTO: - FASE AGUDA: - Tratamento Cirúrgico: Indicações: - estenoses impermeáveis; - estenoses com complicações (hemorragia, perfurações, fístulas).
ESTENOSE ESOFÁGICA • TRATAMENTO: - FASE CRÔNICA: - Estenose esofágica; - Objetivo: preservar o esôfago; - Dilatação endoscópica: - velas; - balões (hidrostáticos ou pneumáticos). - Dilatador de Savary-Gilliard (mais usado). ESTENOSES CÁUSTICAS: - trajetos longos e tortuosos; - Nem sempre o balão é indicado. DILATAÇÃO: - A partir da 3ª semana; - Dilatações precoces são contra-indicadas (risco perfuração); - grau estenose número de sessões; - ingestão oral adequada interrupção.
ESOFAGOGRAMA • 22/11/06: • Trânsito faringo-esofageano processando-se livremente e sem retardo. • Presença de estenose segmentar associada à irregularidade da mucosa em terço médio do esôfago. • Ausência de evidência de fístula traqueoesofágica.
EVOLUÇÃO • Paciente evoluiu de forma estável, afebril, sem intercorrências, em dieta zero. • Solicitada nova EDA para passagem de SNE.
ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA • 23/11/06: • Estenose anelar no terço superior do esôfago, que não permite a progressão do aparelho. Tentado passar SNE, porém não houve progressão da mesma para o estômago. • Conclusão: Estenose cáustica • Sugerimos gastrostomia.
RESUMO INGESTÃO DE CORROSIVOS “CHIADO NO PEITO” TAQUIPNÉIA CANSAÇO VÔMITOS SIALORRÉIA LESÕES ORAIS ESOFAGITE FÍSTULA TRAQUEOESOFÁGICA?