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DA FISSURA À METÁFORA: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE O TRABALHO DO TRADUTOR

DA FISSURA À METÁFORA: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE O TRABALHO DO TRADUTOR SOB O PONTO DE VISTA DA AD. Profa. Solange Mittmann UFRGS CIELLI 2012 – Maringá/PR. O leitor diante do texto traduzido. Só tem acesso às palavras do tradutor Esquece que há um tradutor

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DA FISSURA À METÁFORA: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE O TRABALHO DO TRADUTOR

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Presentation Transcript


  1. DA FISSURA À METÁFORA: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE O TRABALHO DO TRADUTOR SOB O PONTO DE VISTA DA AD Profa. SolangeMittmann UFRGS CIELLI 2012 – Maringá/PR

  2. O leitor diante do texto traduzido • Só tem acesso às palavras do tradutor • Esquece que há um tradutor • Lê como se estivesse em contato direto com o autor do original • Deseja o apagamento do tradutor • Não aceita marcas do trabalho de tradução, pois isso faz lembrar que não está diante do original

  3. Consequência política/econômica • Imagem da tradução como transporte do significado do original • Esquecimento de que o texto traduzido é resultado de um trabalho • Desvalorização do trabalho “invisível” • Não impressão do nome do tradutor na capa do livro • Não pagamento dos direitos autorais • Por que você não cobra o preço de um xerox?

  4. Sobre as N.T. em textos literários • Desfaz a fluência • É como sair da cama quentinha para ver que barulho é aquele lá no porão (LFV) • Desfaz a ilusão de estar lendo as palavras do autor do original • Desfaz o efeito de transparência • Leva à imagem de quem alguém já desvelou o original: tradutor como invasor

  5. Cem anos de solidãoTradução de Eric Nepomuceno Chegava um homem descomunal. Suas costas quadradas mal cabiam pelas portas. Tinha uma medalhinha da Virgem dos Remédios pendurada no pescoço de bisonte, os braços e o peito completamente bordados de tatuagens misteriosas, e no pulso direito a apertada pulseira de cobre dos niños-en-cruz. Era a lenda incorporada nele: a de que os homens de força insuperável e corpo invulnerável abriam um talho no pulso, enterravam ali uma pequena cruz de metal, e fechavam a cicatriz com a pulseira. Tinha o couro curtido pelo sal da intempérie, o cabelo curto e arrepiado como as crinas de um mulo, as mandíbulas férreas e o olhar triste.

  6. Cem anos de solidãoTradução de Eliane Zagury Chegava um homem descomunal. Os seus ombros quadrados mal cabiam nas portas. Trazia uma medalhinha da Virgem dos Remédios pendurada no pescoço de búfalo, os braços e o peito completamente bordados de tatuagens enigmáticas, e na munheca direita o apertado bracelete de cobre dos niños-en-cruz.* Tinha o couro curtido pelo sal da intempérie, o cabelo curto e aparado como a crina de uma mula, as mandíbulas férreas e o olhar triste.

  7. Cem anos de solidãoTradução de Eliane Zagury * Explicação do autor à tradutora: “Segundo uma lenda popular, alguns homens fazem abrir o pulso e ali meter uma pequena cruz especial fechando-o depois com uma pulseira de ferro ou cobre. Isto, segundo a lenda, lhes dá uma força extraordinária.”

  8. O incômodo da N.T. “O que temos aqui é a questão da presença física do tradutor. Sua própria declaração de que chegou primeiro, desvendou um mistério, tornou-se guia e informante do leitor.” (LYRA, 1998)

  9. Imaginário sobre a leitura e, consequentemente, a tradução Imagem tradicional: emissor mensagem/códigoS receptor decodifica, resgata Imagem contemporânea: sujeito1 discurso sujeito 2 sujeito 3 sujeito 4 entram na rede de sentidos produzem efeitos

  10. Imagem sobre o tradutor • Imagem tradicional: como um intruso que deve funcionar como uma ponte invisível • Imagem contemporânea: como mais um leitor, como produtor do texto da tradução, uma possibilidade de interpretação entre tantas outras.

  11. A constituição do discurso Não fronteira entre dentro e fora Efeito de um Fragmentos que se aproximam Sob determinação da FD Sustentado por pré-construídos Um aspecto fundamental, que faz toda diferença ao pensar a tradução

  12. Texto e exterioridade “O texto não pode ser assim visto como uma unidade fechada pois ele tem relação com outros textos (existentes, possíveis ou imaginados), com suas condições de produção (os sujeitos e a situação) e com o que chamamos exterioridade constitutiva, ou seja, o interdiscurso, a memória do dizer (o que fala antes, em outro lugar, independentemente).” (ORLANDI, 2001).

  13. O sujeito tradutor Como leitor do texto 1 e como autor do texto 2: Interpelação Injunção à interpretação Direcionamento do sentido Autoria

  14. Questionar o imaginário: • do sujeito como unidade ativa de uma consciência intencional • da língua como instrumento de comunicação das ações e expressões desse sujeito (Pêcheux, 2011)

  15. Da subjetividade ao assujeitamento “Isso supõe que o sujeito deixe de ser considerado como o eu-consciência mestre do sentido e seja reconhecido como assujeitado do discurso: da noção de subjetividade ou intersubjetividade passamos assim à de assujeitamento.” (Pêcheux, 2011)

  16. Do assujeitamento à tomada de posição • Efeito sujeito: efeito de origem, efeito de responsabilidade • Tomada de posição: modo de o sujeito se relacionar com a Formação Discursiva • Tradutor: • determinado por • determinado a AUTORIA

  17. Autoria “o sujeito ocupa a posição de autor quando retroage sobre o processo de produção de sentidos, procurando ‘amarrar’ a dispersão que está sempre virtualmente se instalando, devido à equivocidade da língua” (TFOUNI, 2008)

  18. Dispersão Efeito metafórico Deslizamentos Falta Falha Contradição Unidade Denotação X conotação Estabilidade Plenitude Controle Coerência Esquecimentos e disfarces necessários

  19. Função-autor Função-tradutor • Função-autor: princípio de organização e de efeito de um, efeito de origem (cfe. Foucault, 1969) • Função-tradutor: estar entre duas línguas, levar ao efeito de proximidade entre dois discursos

  20. Heterogeneidade e efeito de unidade Na produção do texto: heterogeneidade e efeito de unidade Na leitura do texto: desfaz-se o efeito de unidade, a heterogeneidade possibilita a interpretação, refaz-se o efeito de unidade Heterogeneidade provisoriamente estruturada (cfe. Indursky, 2001)

  21. O tradutor na turbulência “Tomada no âmbito da história e do discurso, a passagem de um ato de enunciação para outra língua não acontece sem interpelação. Isso implica dizer que o sujeito que traduz não pode se constituir a não ser perdendo-se na turbulência dos discursos que se encarregam do destino do dizer submetido à passagem.” (Souza, 2010)

  22. Questão “Como seria pensar o sujeito, efeito de equívoco, enunciando não mais fixado apenas em certo sistema linguístico, mas no seu dizer em trânsito entre uma língua e outra? O que se passa quando o caso não é falar uma mesma língua de muitos modos, mas simplesmente falar em mais de uma, sendo incitado a transferir relações de sentido e interpelado no ponto em que simbolicamente um espaço linguístico é irredutível a outro, e que portanto são mutuamente irredutíveis os sentidos que se processam em distintos territórios linguísticos?” (Souza, 2010)

  23. Efeito metafórico • Deslizamento do enunciado • Sempre uma palavra pela outra • Entre pontos de deriva • Numa língua fluida, não numa língua rígida • Demanda interpretação • Possibilita a tradução • Leva à seleção e à renúncia

  24. Sobre a metáfora “não há, de início, uma estrutura sêmica do objeto, e em seguida aplicações variadas dessa estrutura nesta ou naquela situação, mas que a referência discursiva do objeto já é construída em formações discursivas (técnicas, morais, políticas...)” (Pêcheux, 2011)

  25. O discurso entre o imposto e o interditado Nas bordas porosas do discurso marcam presença-ausência: • outros discursos possíveis na mesma FD (o que pode/deve ser dito) • outros discursos impossíveis naquela FD (o que não pode / não deve ser dito)

  26. Cem anos de solidãoTradução de Eliane Zagury • Amaranta estava perdida por demais no labirinto das suas lembranças para entender aquelas sutilezas apologéticas. Tinha chegado à velhice com todas as suas saudades vivas. Quando escutava as valsas de Pietro Crespi sentia a mesma vontade de chorar que tivera na adolescência, como se o tempo e as suas punições não tivessem servido para nada. ... Às vezes lhe doía ter deixado com a sua passagem aquele riacho de miséria e às vezes sentia tanta raiva que espetava os dedos nas agulhas, porém mais lhe doía e com mais raiva ficava e mais lhe amargava o fragrante e bichado goiabal de amor que ia arrastando até a morte.*

  27. Cien años de soledad A veces le dolía haber dejado a su paso aquel reguero de miseria, e a veces le daba tanta rabia que se pinchaba los dedos con las agujas, pero más le dolía y más rabia le daba, y más la amargaba el fragante y agusanado guayabal de amor, que iba arrastrando hacia a la morte.

  28. Cem anos de solidãoTradução de Eric Nepomuceno Às vezes doía nela ter deixado aquele rastro de miséria, e às vezes sentia tanta raiva que picava os dedos com a agulha, e mais doía e mais raiva dava, e mais amargava o pomar de amor, ao mesmo tempo fragrante e bichado, que ia arrastando rumo à morte.

  29. N.T. de Eliane Zagury * Tendo sido impossível encontrar uma expressão equivalente em português ao excelente “achado” literário de Gabriel García Márquez (...) do guayaba, preferimos manter a imagem, acrescida desta nota: a goiaba é uma fruta que bicha com muita freqüência e sem apresentar marcas externas que sirvam de aviso à pessoa que come. A partir dai, da conotação afetiva de frustração que se desenvolveu no seu significado, a palavra passou a ser empregada em sentido figurado (...) de mentira, embuste. (...) a própria escolha das palavras na série sinonímica vem a intensificar o desequilíbrio, já que fragrante é um termo que pertence à tradição do clichê literário (“nobre”, portanto), enquanto que agusanado é o termo normal da linguagem agrícola sem idealização estética. A hipérbole guayabal intensifica grotescamente a ironia da adjetivação.

  30. A natureza do discurso é da ordem do repetível, do já-lá do interdiscurso que funciona sob a forma de fluxo e refluxo, pela memória, no intradiscurso.

  31. Repetição e Atualidade • Repetível do eixo horizontal: • estrutura da língua • Ressalva: real da língua: equívoco • Repetível do eixo vertical: • FD, interdiscurso • Ressalva: real da história: contradição

  32. O tradutor e a palavra • O tradutor encontra-se diante do excesso • Seleciona uma palavra e descarta outras • Diante da fissura, do escape, do excesso, recorre à nota do tradutor • A nota é uma forma de contenção, mas é uma costura que deixa marca do rasgo • E o rasgo é a própria possibilidade de interpretar

  33. Autoria do tradutor • Efeito de transparência • Efeito de homogeneidade palavra palavra palavra P A L A V R A intra P A L A V R A intra P A L A V R A MEMÓRIA EM MOVIMENTO SIGNIFICANDO

  34. Conclusão sobre o trabalho do tradutor • Percorrer os espaços de silêncio para aquém, para além e por entre as palavras. • Refletir sobre os não-ditos e os já-ditos em outro lugar. • Desconfiar da transparência, da unicidade, da língua regulada • Tomar posição e defender a legitimidade da tradução

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